Sacrifício pela balada alheia

O conto Rosa e o Rouxinol estava muito meigo para Oscar Wilde, ainda bem que eu li até o final.

Na história, o Rouxinol se sacrifica para que nasça uma rosa vermelha. A rosa vermelha era procurada (quase que desesperadamente) por um estudante que a levaria a uma moça, para que ela dançasse com ele. A moça descumpre o trato, mesmo recebendo a rosa, porque recebeu jóias de outro rapaz. O estudante joga a rosa na rua e um carro a atropela. Ah, depois disso, ele resolve se dedicar aos estudos da metafísica e da filosofia porque o amor não tem nada de prático (um trecho muito sensato).

Estava tudo muito brega até a rosa ser rejeitada, exceto pelas considerações do menino sobre o canto do rouxinol. Enquanto o mártir da história estava cantando pra se despedir da vida, em favor da rosa necessária ao amor do menino, o ingrato e ignorante estudante estava dizendo que o bichinho cantava lindamente, mas não tinha sentimentos.

Enfim, dá a entender que geralmente são as terceiras pessoas que mais se sacrificam por amor do que os dois envolvidos. Minha opinião, contudo, é de que o rouxinol não percebeu o engano do menino, uma vez que não era amor, era só vontade de dançar a noite inteira. Acontece muito por aí, com muito mais freqüência que o amor, e com conseqüências muito menos desgastantes também. Sem perceber que uma “balada”, ainda que bem acompanhada, não vale uma vida (muito menos quando se trata de dar a sua vida pela balada de outrem) o pobre rouxinol morreu por uma causa vã. Para mim, a moral da história é a importância de usar a prudência para interpretar os fatos, principalmente quando se opta pelo auto-sacrifício. Eu só não sei como se faz pra ter prudência e vocação pra auto-sacrifício, nem pretendo aprender esta última.

Além do mais, era só ir à floricultura...