terça-feira, 8 de março de 2011

Nós e o 8 de março

Hoje é o dia internacional da mulher, 8 de março, mas ninguém recebe parabéns por isso. Pelo menos, não sinceramente ou com um pingo de certeza, porque a maioria das pessoas não sabe do que se trata; pensam que é como dia das crianças ou páscoa.

Em 1857, nesse mesmo dia, no estado de Nova Iorque, 130 tecelãs morreram carbonizadas dentro de uma fábrica durante uma greve por melhores condições de trabalho. As operárias recebiam um terço dos salários dos homens, os quais, por sua vez, já eram pagos com quantias irrisórias. Ademais, as grevistas reivindicavam menor carga horária constituída por dezesseis horas de trabalho diárias. Bem, o resultado da manifestação você já sabe.

Essa data só passou a ser comemorada muitos anos depois, por iniciativa de Clara Zetkin, famosa ativista da época, na Conferência Internacional de Mulheres em 1910. A ONU, entretanto, só reconheceu e oficializou esse marco em 1975.

Incrível, não é? Quantas mulheres lutaram e morreram pelos direitos que nós, homens e mulheres, temos agora, a que pouquíssimos dão valor e que muitos repudiam em nome da "ordem natural das coisas".

E você, garotinha popular, que adora se maquiar, perfumar e subir em sapatos salto 35 cm, quando ouve a palavra “feminismo”, torce o nariz, porque você não se identifica com a causa de “sapatões misantropas que não se depilam”. Pois então, apresento-lhe Simone de Beauvoir, uma das principais teóricas do feminismo e defensora da IGUALDADE entre mulheres e homens:

Simone de Beauvoir

Opa, hehe:

Simone de Beauvoir

Linda, não? Quebra-se, assim, um estereótipo.

Com a publicação de seu livro “O Segundo Sexo”, ela revolucionou, se não originou a literatura feminista, ao analisar os aspectos sociais, psicológicos, políticos e sexuais femininos. Nada se faz mais atual que as primeiras linhas desse seu livro de 1949:

“AS MULHERES de hoje estão destronando o mito da feminilidade; começam a afirmar concretamente sua independência; mas não é sem dificuldade que conseguem viver integralmente sua condição de ser humano. Educadas por mulheres, no seio de um mundo feminino, seu destino normal é o casamento que ainda as subordina praticamente ao homem; o prestígio viril está longe de se ter apagado: assenta ainda em sólidas bases econômicas e sociais. É pois necessário estudar com cuidado o destino tradicional da mulher. Como a mulher faz o aprendizado de sua condição, como a sente, em que universo se acha encerrada, que evasões lhe são permitidas, eis o que procurarei descrever. Só então poderemos compreender que problemas se apresentam às mulheres que, herdeiras de um pesado passado, se esforçam por forjar um futuro novo.”

É deprimente pensar como, em pleno século XXI, as mulheres brasileiras ainda são submetidas e se submetem ao regime patriarcal, à hegemonia masculina. Muitas de nós e da geração nascida no final do século passado ainda vivem em função da satisfação, do prazer masculino. Estas não se enxergam como sujeitos, mas sim como objetos de desejo. Não reconhecem, por exemplo, o próprio direito a equiparação de salários, pois “a mulher não pode ganhar mais que o homem”.

Há ainda aquelas que invocam o feminismo para justificar sua própria promiscuidade, pois, se é “legal” o homem não ter critérios, a elas também o é permitido. Parabéns a você que pensa assim, deturpando todo o ideal. Se a taxa de criminalidade entre os homens é hipoteticamente 70% maior, acho que ta na hora das mulheres correrem atrás pra se igualarem né?

Beauvoir acreditava que o sexo – a genitália – não determinava o psicológico tanto da mulher quanto do homem, mas sim que a sociedade os colocava em posições distintas e pré-estipuladas. Freud, por sua vez, sempre defendeu que as crianças nascem sexuadas e colocou os mitos de Édipo e Electra como fases ocorrentes nas vidas de cada ser humano. Bem, eu não tenho base nem teórica nem empírica para afirmar quem está certo, mas sei que ambos pensamentos já se encontram superados.

Penso, no entanto, que o papel da sociedade na formação feminina todos nós já sabemos: a influência da mídia, da educação e da criação que temos é infelizmente decisivo na maneira como as mulheres se vêem.

A função nossa, portanto, e talvez o que altera os rumos de nossas vidas, é questionar as informações que recebemos e racionalizar o que faremos com elas. Cabe a nós realmente aceitar o lugar que nos foi “a priori” concedido e imposto ou criar - ao lado dos homens e não à parte - um futuro no qual seremos indivíduos valorosos e construtivos, com o potencial para ser um ser humano completo e livre, com a capacidade de autodeterminação.

Fontes:
http://www.simonebeauvoir.kit.net
http://www.redemulher.org.br/espanhol/8demarco.htm
http://www.redemulher.org.br/espanhol/8demarco.htm

10 comentários:

  1. Relevante e passível de discussões!
    Gostei do post.

    Um abraço,
    Michele

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  2. é isso ae, mulherzinhas do mundo, temos que honrar aquelas que lutaram para que nós pudessemos trabalhar dignamente, obter reconhecimento profissional, etc e tal

    não entendo como ter um salário maior que o do marido, por exemplo, ainda é visto como um problema por algumas religiões

    desde qdo a bíblia prega que o orgulho do sexo masculino é mais importante que o bem estar da família?

    é compreensível que existam homens machistas, principalmente pq a maioria dos homens machistas possuem uma inteligência limitada e por isso devem morrer de medo de sucumbir ao domínio feminino, preferindo, portanto, mulheres que se deixem ser subjugadas

    já a mulher machista, é incompreensível... como assim recusar o direito de pensar? de conquistar? de assumir uma posição de destaque não na sociedade, mas na própria vida? como recusar ser a protagonista de sua própria vida, ao invés de ser uma coadjuvante na vida do marido?
    para mim, é um mistério...

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  3. Sobre a ideia da taxa de criminalidade entre as mulheres, gostei bastante, ein. hahahha


    Uau, gostei bastante do post!!!


    E que bundinha da Beauvoir, ui.

    ;)

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  4. Seu texto foi perfeito. Em relação à igualdade, acho que o mais interessante é lutar por ela com a devida proporcionalidade e com a sabedoria necessária para não buscar seguir os maus exemplos. Não precisamos ser iguais aos homens. Não somos iguais porque temos nossas particularidades assim como eles têm as deles. Somos especiais e únicos. Mas temos os mesmos direitos e ambos merecemos a mesma dignidade, as mesmas oportunidades. E a verdadeira liberdade que tanto homens quanto mulheres merecem ter. Sem aqueles antigos rótulos de que determinadas atividades são de homem, outras são de mulher. Homens também sofrem com esse preconceito. A liberdade de poder também escolher ser dona-de-casa sem ser taxada como uma incapaz. Da mesma forma que um homem pode preferir cuidar do lar, por que não? A sociedade precisa parar de rotular, abandonar os preconceitos e aceitar o fato de que as pessoas são diferentes, pensam diferente, mas todas merecem ser respeitadas. Bjinho pra ti.

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  5. Muito bom Gabi!

    Luta atual: largar de mão os homens haiuhalhuia

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  6. mas nao precisa queimar nossos corpinhos. Alguns homens (eu eu eu) tb querem a mulher ao seu lado com os mesmos direitos, mesmos benefícios, salários proporcionais (desde que o meu tb aumente proporcionalmente rs).

    :)
    gostei do texto.

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  7. conhece esse texto?
    http://acessototalrevista.org/?p=12474

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  8. acho que você, anônimo 2, suposto escritor desse artigo indicado, não nos confunde com mulheres que gostam de big brother e se lambuzam com maquiagem por ter vergonha da própria cara.
    realmente a globo e toda a mídia tenta nos impor uma imagem do que a mulher deve ser, mas isso não é novidade para quem tem ciência de si mesmo e do mundo.

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  9. - Olá!
    Estou visitando seu blog pela primeira vez e amei muito o seu texto!
    Mulher em primeiro lugar, curti demais! Já estou seguindo!!
    Bjuuus

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  10. É possível que a feminilidade e a independência convivam em equilíbrio, desde que o primeiro atenda a vontade da mulher, se houver. Um exemplo simples que surgiu numa mesa com minhas amigas: se arrume para você mesma e isso só SE você quiser, se quiser sair de moleton, saia, por favor. Gostei muito do post e há sem dúvida muito a ser conquistado. Pena ainda haja muita resistência feminina: conheço inúmeras mulheres submissas que se submetem as piores situações com namorados e maridos. E, se por um lado, penso que é o livre-arbítrio delas, por outro, me parece uma afronta depois de todas as lutas travadas. Escrevo muito sobre isso lá no Capivaras. Um beijo, Frau.

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