sábado, 12 de maio de 2012

Meu jeitinho de ser feminista.


Eu sinto que estou pisando em ovos, falando nisso, mas preciso falar. Me considero feminista, sim... Nem por isso consigo reforçar todo o discurso, em todos os pontos. Atualmente, duas questões me atormentam:
  1. Se só à mulher cabe a decisão a respeito do aborto, como faz sentido cobrar que o pai se responsabilize pela criança porque ele ajudou a fazer?
  2. Manifestações de feministas nuas realmente ajudam a causa?

Eu não quero discutir aqui a questão do aborto, há pouco mais de um ano me declaro a favor da legalização, mas não concordo com o argumento de que cabe apenas à mulher escolher. Pra mim, não faz sentido que o pai só tenha direito/responsabilidade depois do parto. Até porque, quando queremos que os homens se responsabilizem pelos filhos que fazem, alegamos que eles são tão responsáveis pelos métodos contraceptivos quanto as mulheres. Quando a gravidez é desejada pela mulher, muitas vezes é cobrado que o homem se interesse, que acompanhe o pré natal e tudo mais... Não faz sentido que, apenas quando a  o aborto desejado pela mãe, o cara seja excluído do processo. Esse é inclusive um dos pontos que me fazem a favor da legalização... Uma vez legalizado o aborto, fica mais fácil que o cara procure evitar a decisão quando sua parceira não dá a mínima pra sua opinião.

Conheço homens que tiveram seus filhos abortados contra a sua decisão, e por mais que eu acredite que um filho muitas vezes modifica mais a vida da mãe do que a do pai, não acho certo que o aborto seja feito sem o consentimento dos dois progenitores. Acho contraditório que algumas mulheres condenem homens que tentam forçar as mulheres ao aborto, ao mesmo tempo que defendem o direito da mulher abortar independente da opinião do pai da criança. Isso  é sexismo, é acreditar que a mulher tem um direito maior que o homem sobre uma "coisa" que fizeram juntos. Se defendermos que o homem não tem direito a decidir sobre o aborto, estamos dizendo também que só cabe a mulher prevenir a gravidez, que só cabe a mulher se preocupar com a gestação e que só cabe a mulher criar o filho. Não pode haver suspensão de “9 meses” do direito/responsabilidade do homem, no período entre o ato sexual e o parto.

Sobre as feministas adeptas do nudismo, não estou falando da marcha das vadias, relaxem, essa causa já compreendi... Mas a compreensão não chegou pra mim, quando o assunto é a onda das feministas da Europa. Aquele lance de loiras tirando a roupa sempre me lembra comerciais de cerveja, nunca igualdade entre os sexos. Costumo guardar minha opinião a respeito, até para não fazer coro ao machismo... Mas hoje li uma notícia que achei irônica, e não podia deixar de comentar. A ucraniana tirou a roupa para protestar contra o turismo sexual na Ucrânia... A causa é nobre mas, na minha opinião, a modalidade de protesto estimula a causa combatida pela moça.

Na timeline do meu twitter, as feministas ucranianas sempre são mencionadas no sentido de “venha protestar na minha casa”, “todas as feministas podiam ser como as ucranianas”, “meu sonho é ir pra Ucrânia”... Desculpa ae, mas conheço uns trocentos caras que morrem de vontade de ir pra Ucrânia por causa dos protestos sem vestes... Eles são toscos? Sim, são. Contudo, não é tirando a roupa que vamos ensiná-los a não ser. Por isso eu ri quando vi que o protesto era contra o turismo sexual, ri um bom tanto, e não vejo outra forma de reagir à notícia. Imagine uma criança tirando a roupa para pedir o fim da pedofilia, saca? Não é assim que as coisas funcionam, tanto é que as causas das feministas ucranianas quase sempre não são lembradas. O que a galera sabe é que quase sempre elas tiram a roupa, e que são lindas. O argumento é que a nudez representa a liberdade, tudo bem, cada um com suas ideias... Mas quando você quer chamar a atenção de pessoas para uma causa, você não tem que apenas passar uma mensagem, você tem que passar a mensagem de forma que o receptor compreenda... Esse é o meu ponto, acho que o grupo feminista campeão da distorção das mensagens é o Femen das Ucranianas.

E me irrito quando o discurso feminista tende para o “você não pode criticar feministas seminuas porque isso é machismo”, “enquanto o feto depende da progenitora, é uma decisão da mulher a respeito do seu corpo”... Me dá a impressão de que não se pode dialogar a respeito, etc e tal. Eu quero direitos iguais, eu quero o fim da objetificação da mulher, eu quero trocentas coisas que o feminismo também quer, mas eu não quero tratar o movimento como algo sagrado com dogmas indiscutíveis... Por isso estou aqui falando os pontos que tenho considerado obscuros, abertamente, assim como sacaneio o machismo abertamente, sempre que posso. É meu jeitinho.



Um comentário:

  1. O que me irrita é quando um homem dizer que a mulher deve ou não deve fazer com o próprio útero, como tem acontecido muito no Congresso Nacional. O projeto de lei sobre a tal bolsa-estupro comprova que muitos homens ainda querem controlar nossos corpos. Um ser que não corre o mínimo risco de engravidar e passar por um transformação tão radical como é a gravidez não deveriam dizer com tanta firmeza que o sofrimento não diminui a dignidade (Min. Marco Aurélio), quando do julgamento da liminar da ação sobre o abortamento de feto anencéfalo pelo STF.
    Contudo, quando o homem gera um filho com uma mulher e tem a verdadeira intenção de criá-lo, sua opinião quanto ao nascimento dessa criança deve ter o mesmo peso do dizer da mulher. Por outro lado, o homem que não quer criar a criança (criar é diferente de pagar pensão) e não quer o abortamento por convicções pessoais, deve ser ignorado. Pagar pensão é fácil; quero ver cuidar da educação, dos valores e do emocional da criança.
    Quando criminalizarem o abandono afetivo, o abortamento será legalizado, porque os homens ainda são os que mais abandonam suas famílias.

    Quanto às ucranianas, acho que a intenção delas é desmitificar o corpo feminino. Vemos homens sem camisa por todos os cantos, a todo minuto e não nos tornamos animais no cio, porque o corpo masculino não tem a obriação de ser imaculado. Não acho que a estratégia delas é a melhor, mas pelo menos estão tentando.

    O movimento feminista é bem amplo e diverso. Existem várias correntes e debates e acho isso ótimo. Só não gosto do hábito de ver machismo e sucumbência a ele em toda atitude de vaidade, por exemplo, e de colocar a mulher como vítima. Claro que nós somos vítimas preferenciais em várias situações, mas devíamos nos focar na nossa capacidade de reagir e vencer do que na probabilidade de sempre apanhar.

    Mas sei lá. Amanhã posso ter mudado de opinião =)

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