quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Não aprendi o silêncio.


Até me calo, mas escrevo. É meu jeito de lidar com as coisas, organizar as ideias, diminuir a ansiedade. E hoje, cada livro, cada visão da data, cada detalhe, me faz lembrar uma coisa triste, chata, que tem que acontecer, mas que a gente sempre prefere que nunca aconteça: a partida das pessoas que a gente ama.

Minha tia-avó deixou esse mundo. E pra muitas pessoas, é só uma tia-avó. Muita gente tem muitas tias-avós desimportantes... Mas eu tive muitas importantes, ainda tenho. E essa que se foi, é uma das mais mais.

Quando nasci, tia Bilé já era uma senhora de idade, já tinha cara de vó, jeito de vó, silêncio confortador de vó. Senhora da paciência, do silêncio, das leituras. Não posso dizer que a conheci bem, mas conheci muito bem sua presença, seu jeito doce, seu carinho. Porque carinho é gostar da gente, e isso ela gostava. Quantas vezes naquela casa, ainda de madeira, eu corri pelos quartos com as netas dela. Quantas vezes ela teve paciência com aquele quinteto escandaloso de primas que queriam tudo, menos dar sossego a alguém. Quando fui pro sul, a tia Nina, filha da tia Bilé, também foi. E aquele um ano e pouco foi muito mais fácil tendo mais gente que eu amava por perto.

Porque minha mãe sempre disse que a tia Bilé fazia da casa dela a casa dos sobrinhos. E isso ela ensinou pros filhos, e isso eu tive com a tia Nina. Sabe, eu cresci, eu me mudei... Mas não perdi as lembranças. Sempre que chegava na casa da tia Nina, sempre que chegava onde estava a tia Bilé, eu sentia uma coisa chamada conforto, aquela sensação de “você é bem vinda aqui”. E perto delas eu poderia ficar pra sempre, apenas sendo eu mesma, apenas sendo, estando e aproveitando isso de ter uma família grande que se ama, que mantem os vínculos.

E sempre que leio um livro, ou que vejo uma senhora lendo, lembro da tia Bilé. Só comprei um presente pra ela nessa vida, um livro... E quanta alegria, quanto carinho recebi de volta, por tão pouco. Porque a tia Bilé foi uma das pessoas que me ensinou que devorar livros faz bem pra alma. E sempre tão silenciosa, tia Bilé me ensinou que o silêncio também fala... Mas eu ainda não aprendi muito bem essa lição, porque ainda preciso escrever.

Em circunstâncias complicadas, na véspera do aniversário da filha, ela partiu... Essas coisas que fazem a gente pensar que se a vida não é justa, a morte muito menos. Como dizer feliz aniversário para alguém que acaba de perder uma pessoa tão importante? Talvez não dizer...

Escrevo aqui pra chorar minhas pitangas, mas também para o mundo saber que ontem ele perdeu um pouco de graciosidade. Do pouco que restava, resta ainda menos. Se foi uma grande mulher, que deixou uma família tão linda quanto ela, mas deixou também um vazio, daqueles que o tempo não preenche... Espero que o vazio pare de doer, o mais rápido possível, no coração dos seus filhos e netos.

Um comentário:

  1. Quando uma boa pessoa morre, o que sempre me passa pela cabeça é que espero ser capaz de viver uma vida boa como ela e deixar minha "marca" na vida das pessoas que amo e contribuir pra que elas sejam um pouco mais felizes e pra que suas vidas sejam mais fáceis. Enfim, morrer mas deixar um mundo melhor pra trás.

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