quinta-feira, 30 de maio de 2013

Eu gosto de urubus.

Eu não sei em que ocasião nem em que local, mas uma vez, há uns doze anos atrás, me contaram uma história sobre um urubu que fingia que era carneiro, ou um outro animal que não me lembro qual, porque queria que gostassem dele. No fim da história, o urubu não conseguia manter o disfarce... E a história não falava sobre aceitação, no final o urubu continuava renegado... O sentido, para quem contava, era dizer que o que era mau não poderia esconder por muito tempo sua natureza, e devia ser apartado do que era bom. Eu não tenho uma opinião formada sobre a moral da história, porque não sei se existe algo totalmente bom, ou algo totalmente mau... Mas eu tenho uma opinião formada sobre urubus.
 
Eu me lembro muito bem da primeira vez que vi um urubu, na verdade vi um bando de urubus. Eu devia ter uns oito anos, e devido às histórias que se ouve por aí, achava que os urubus eram bichos feios e nojentos... Até eu ver o bando de urubus. Em uma cerca, na estrada pra uma fazenda, eles estavam tomando sol de asas abertas. As pontas das asas brancas... Achei aquele animal muito bonito, e logo perguntei pros meus pais que bicho era aquele. Quando me disseram que era um urubu, não entendi como um bicho tão bonito poderia ser tão mal afamado.
 
Você pode me dizer que ele é nojento porque come carniça... Mas eu não me sinto no direito de julgar os hábitos alimentares dele. Além do que, acho que ele é muito bonzinho de não tirar a vida de ninguém pra se alimentar, tomando a decisão de aproveitar aquilo que já está morto. Glamouriza-se tanto outras aves de rapina, fala-se tanto da beleza dos gaviões e das águias... E não se fala que em todo esse esplendor, eles também comem carniça de vez em quando. Pelo menos é o que tenho visto nas chácaras aqui por perto... A vida não tá fácil pros gaviões, não existem muitos bichos vivos para serem caçados.
 
Todos os dias quando saio pra trabalhar, primeiro passo pelos gaviões ciscando (sim, eles também ciscam) nas ruas por onde moro. Depois, chegando ao distrtito em que trabalho, encontro os urubus, tomando sol em cima dos postes. A verdade é que simpatizo muito mais com os urubus... Um dia li uma reportagem falando sobre um condomínio em que os moradores tratavam um urubu como um animal de estimação, e que ele respondia ao chamado dos moradores como um cachorrinho. Desde aquele dia, fiquei com vontade de achar um urubuzinho bonitinho por ae, filhote, e domesticá-lo. Sim, eu sou má, porque para tanto, desejo que um urubuzinho fique órfão. Mas esses pensamentos se desfazem no ar, porque eu não posso ter um urubuzinho, pois meus cachorros o matariam...
 
O ponto é: os urubus são bonitos. E o fato da humanidade denigri-los só acontece porque estamos acostumados a julgar demais o que os outros comem, seja no sentido literal, seja no sentido figurado. E eu precisava tornar isso público, porque até hoje me sinto culpada por não ter interrompido o contador da história que diminuía o urubu, há uns doze anos atrás. Afinal, mau é aquele que conta uma história tão cruel, sobre um bicho que contribui tanto para o equilíbrio ecológico, e que fica tão lindo de asas abertas, tomando o sol da manhã.

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