Eu me lembro bem de
quando tinha 23 anos... No desespero de um emprego sufocante, eu
discutia com meu pai meus dilemas profissionais. Eu tava feliz com
meu salário, mas não com minha posição, e não sabia como mudar
de área e de ambiente de trabalho. Me sentia cansada demais pra
procurar outro emprego... E não sabia se seria uma boa ideia
trabalhar com meu pai, não era fluente em inglês, não sabia se
queria ser trainee ou fazer concurso, e precisava comprar um
apartamento e terminar de pagar o carro... Eu tinha aprontado toda
uma bagunça na faculdade, não fazia sentido terminar a
monografia porque eu não tinha as optativas para colar grau... E eu
nem sabia se queria o diploma. E aí meu pai me disse: “Calma,
Norora! Você só tem 23 anos!”.
E se passaram 4 anos, e
eu continuo no mesmo desespero. Se eu olhar para o hoje, eu acho que
está tudo errado de novo. Eu estou satisfeita com a minha grana, mas
não com a minha qualidade de vida. Eu acho que tomei as decisões
erradas, e muitas vezes penso que não aprendi nada. Meu carro está
velho, eu não comprei um apartamento, eu torrei a minha poupança, e
não falo inglês fluente. Eu mudei de emprego, mas continuo a mesma.
Eu continuo não sabendo o que quero fazer da vida, e só excluí
duas possibilidades do leque de opções ofertados pra minha
profissão. Eu me formei, mas até hoje não fui buscar meu diploma.
E meu pai me diz: “Age, Norora! Você já tem 27 anos!”.
Ontem eu peguei um dos
meus cadernos de estudo, pra continuar estudando. Como eu uso 1 por
matéria, eles são os mesmos de 4 anos atrás. Entre meus escritos
de Administração de Produção, achei uns textos melancólicos, e
meu cronograma pra estudar filosofia por conta própria. Eu retomei
meus estudos de filosofia esse ano, sem nem me lembrar que tinha
tentado isso há 4 anos atrás, e quando vi que estou no mesmo lugar,
me perguntei: “O que eu fiz nos últimos 4 anos?”. Na minha
cabeça, acho que nada. Assim como na cabeça do meu pai, talvez. Não
que ele me cobre, mas provavelmente minha frustração está sendo
exalada pelos meus poros, de forma que todo mundo que me cerca quer
que eu me desespere menos, e aja mais!
Se evoluir for apenas
olhar para onde estou, como estou... Se for uma questão de analisar
apenas o estado final, realmente eu fiquei 4 anos dentro de um limbo.
Contudo, um livrinho de filosofia meloso (sim, isso existe) que eu li
fala umas coisas muito legais, sobre o valor das experiências, e o
fato de que as coisas nunca são totalmente em vão, devido às
experiências que produzem. Então, mesmo que eu esteja no mesmo
lugar de 4 anos atrás, eu não sou a mesma de 4 anos atrás. Eu
aprendi muita coisa, eu fiz muita coisa, e vivi muita coisa legal...
Cheguei a muitas conclusões importantes, que me ajudaram a encerrar
ciclos e rever meus planos profissionais. Também fiz muitas
bobeiras, chorei umas 2x por ano (que é um índice altíssimo pra
mim), descobri meus problemas mentais, tive picos de descontrole
emocional, e vivi muita coisa ruim... Mas isso me ajudou a tornar a
pessoa que sou hoje, e ela não é tão ruim assim.
Embora hoje eu sonhe
menos do que sonhava há 4 anos atrás, não sonho mais baixo.
Continuo orgulhosa por saber sonhar com coisas reais, coisa que acho
que sempre fiz... Mas, além disso, percebo que preciso de muito
menos para ser feliz do que o que eu calculava aos 23 anos. Percebo
que estou muito mais capaz de correr atrás, do que estava há 4 anos
atrás... E por essas e outras que sei que, mesmo que não me sinta
uma jovenzinha (coisa que nunca me senti, desde os 15 anos de idade),
os anos que passaram não foram perdidos nem me farão falta, mesmo
que eu não tenha saído do lugar se eu for olhar pro meu hoje. Desculpa se eu sou
clichê, mas sou obrigada a dizer que nesse tempo todo, o que valeu
foi a caminhada. Mesmo que eu tenha andado por um grande círculo, e
retornado ao mesmo lugar, eu andei. E não perdi tempo algum... =)
E se em algum momento pensei o contrário, provavelmente isso ocorreu porque me analisei pelo "esperado pela sociedade" e não pelo "esperado por mim mesma". Se era pra eu ser mais independente dos meus pais, se era pra eu ter um apartamento, se era pra eu ter coisas que não estão me fazendo falta... Era porque eu não estava ouvindo a mim mesma, porque isso nunca foi importante para mim. Se eu pudesse voltar atrás, apenas mudaria o destino de algumas viagens, e colocaria mais umas 2 no pacote... Anularia umas fases de descrença e algumas grandes decepções que vivi com uma ou outra pessoa, estudaria mais, mas quanto ao meu destino, poderia estar exatamente aqui novamente, porque não faço ideia de outro "estado" que seja tão agradável quanto esse... Só faço ideia de coisas que posso viver e que podem ser tão (ou mais) divertidas e construtivas como as que já vivi.
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