Já faz algum tempo que a internet, mais precisamente as redes sociais, são um grande, complexo e hostil campo de batalha. Tão logo surge um assunto (pode ser um evento, um jogo), indivíduos se organizam e reorganizam em grupos, geralmente sendo: 1 - os favoráveis, 2 - os contrários, 3 - os que reclamam do fla x flu, 4 - os que investem um tempo considerável dizendo que não se importam com nada disso, e finalmente, 5 - os que realmente não se importam.
Aí, veio o Pokémon Go, e não foi diferente. O jogo nem estava disponível oficialmente no Brasil, e já tinha gente jogando, ou se irritando com ele. As teses sobre a CIA ter acesso a fotografias da sua casa, questionamentos à inteligência de quem aderiu ao game, defensores apaixonados do outro lado, e todo o combustível para alimentar a flame war da semana estava posto. Do jeito que Pokémon Go veio, passou... e a internet logo encontrou outros motivos, razoáveis ou absurdos, para as disputas semanais.
Num dia qualquer de 1999, uma professora resolveu “pegar no meu pé” diante dos meus 40 e poucos colegas. De acordo com ela, eu ficava muito tempo no computador, e “essas coisas de computador e internet não dão futuro pra ninguém”. Eu rio disso (e dela) até hoje. Ainda que nunca tenha conseguido me ensinar química, ela me ensinou, desde os 14/15 anos, que se não compreendo uma nova aplicação tecnológica, é melhor ficar na minha.
Um dia, houve quem achasse que fãs de Beatles eram pessoas idiotas (no sentido mais primitivo e literal aplicado à palavra), mas há um consenso estabelecido hoje: os Beatles revolucionaram a música. Talvez um dia a tese de que Game Of Thrones está revolucionando a TV, seja consagrada pelo tempo.
Pode ser que a novidade não seja nada, mas pode ser que ela mude o mundo... e o mundo tem muitas dimensões tecnológicas e culturais que podem ser mudadas, revolucionadas, por coisas que não entendemos. Nem toda febre contagia todo mundo.
Nunca entendi o Snapchat. Ao invés de questionar a inteligência de quem o utiliza, digo que ele me faz perceber que estou ficando velha. Eu entro lá e não entendo nada; não entendo porque as pessoas estão lá, ou qual o sentido daquilo; Snapchat pode ser uma bobagem, ou eu posso estar obsoleta. Ou as duas coisas.
Às vezes, enxergar uma besteira sem sentido no que o outro está fazendo, no gosto alheio, não é sinal de superioridade intelectual. Às vezes é exatamente o contrário: não entendemos porque estamos defasados, ou porque nós próprios podemos ser os limitados. Precisamos aprender a conter nossa vaidade intelectual.
Vale pra Snapchat, Pokémon Go. Vale pra flame war da semana que vem, também. Porque todos temos o direito de gostar ou não, concordar ou discordar. Ao mesmo tempo, temos o dever moral de entender que a opinião de um indivíduo, é exatamente e somente isso: a opinião de um indivíduo, o que está muito mais próximo de 0% que de 1% do mundo, que dirá de ser uma verdade absoluta e incontestável.
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