sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Sobre ter filhos


Escutando novamente a história da família da minha mãe, cheguei mais uma vez à conclusão de que não há atitude mais inconseqüente do que ter filhos. A influência que minha avó teve sobre minha mãe e seus outros filhos foi, no mínimo, paradoxal. Ela concomitantemente ensinou à minha mãe como ser e como não ser em vários aspectos completamente distintos e muitas vezes diametralmente opostos.

Para ilustrar: os cuidados que minha avó tinha com seus filhos, durante certo tempo (enquanto não brigava com meu avô) eram surpreendentes. Para uma mulher nascida durante a Segunda Guerra, era moderna; ensinou à minha mãe a ter auto-estima e a não pensar que sua aparência e modos à mesa determinariam seu destino.

Por outro lado, minha avó foi uma mulher que não sabia argumentar; só brigar. Minha mãe, desta feita, sofrendo os efeitos de brigas constantes, desistiu tanto do diálogo quanto da discussão, deixando a solução para o tempo. Em minha opinião, ambas foram erradas – uma lutava as batalhas erradas e a outra não lutava.

Apesar disso, eu não culpo minha progenitora. Ela era superprotegida por um pai extremamente dedicado, mas que era simples demais para o mundo porvir; se casou com dezessete anos de idade; perdeu aquele pai cedo demais; com 21 anos já tinha três filhos; e tinha um marido genética e patologicamente promíscuo e negligente. Não é qualquer uma que mantém sua sanidade mental e, assim, minha avó não se manteve sã.

Com base nessa história, eu vejo como tudo é uma grande bola de neve. Definitivamente as experiências que minha avó e minha mãe tiveram determinaram minha criação, educação e personalidade, que não é lá das mais certas.

O mundo também não é algo que contribui a favor: além da natureza humana por si só, tem-se ainda o ambiente externo que traz tantas coisas tão negativas que acabam por deteriorar tudo. Você pode até pensar que não vai cometer, com seus filhos, os mesmos erros cometidos com você. No entanto, há uma possibilidade infinita de desacertos, que são bastante renováveis. Então, pode ter certeza que você irá falhar de alguma maneira, talvez menos, talvez mais grave.

Pelo que vejo, há pais criando os filhos como cachorros: dão comida, água, contratam um treinador (escola) para educá-lo e passeiam com eles de vez em quando. Ensinar seu filho a chamar os avós de “senhor” e “senhora”, lhes pedir “bença”, não lhes ensina respeito ou consideração. Mostrar a eles como se comporta à mesa não vai lhes dar noções de moral ou convivência social. Acho que os pais de hoje pensam que educação é mais uma questão de aparências do que de criação mesmo.

Por isso, eu não quero ter filhos. Não acho que estarei preparada em nenhum dia da minha vida e não sou egoísta o bastante para colocar nesse mundo, que só tende a ficar pior, uma criança inocente e frágil, influenciável pelas minhas manias, erros e defeitos, e que eu nunca poderei proteger, nem de mim mesma, nem do que está lá fora.

14 comentários:

  1. É uma decisão muito pessoal... ter ou não ter filhos... E já dizia aquela frase: filhos, filhos... se não tê-los, como sabê-los? Eu, sempre tive um instinto maternal muito grande. às vezes tenho medo também. Imagino o quanto deve ser difícil educar. Por isso sempre sou muito cuidadosa antes de julgar certos pais que vejo... Se bem que alguns realmente nem tentam. Simplesmente procriam e deixam seus filhos largados por aí... Ou deseducam, ao invés de educar. A única coisa que sei é que eu, quando tiver um filho, vou fazer de tudo pra dar certo. E acho que isso já vale. Como disse Fernando Pessoa, toda forma de amor vale a pena, se a alma não é pequena. Acho que ter filhos e educá-los e amá-los, de uma forma consciente, é um gesto de esperança, um gesto de amor. E prefiro acreditar em dias melhores. Mas acho que é importante cada um ter sua opinião bem formada e admiro quem toma uma decisão, sendo honesto consigo mesmo. Ter filhos como se fosse algo obrigatório para quem passa pela vida, mesmo quando não se tem a intenção de criá-los com responsabilidade, é um ato de egoísmo e, até mesmo, burrice.
    Bom, já falei demais... Gostei muito do seu texto. Um abraço!

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  2. é, acho que esse mundo não comporta mais gt... e concordo plenamente com o q vc disse sobre pessoas que cuidam dos filhos como se fosse um animal de estimação, infelizmente, é verdade

    =/

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  3. algo que eu deveria ter colocado no post é que sou a favor da adoção e que, se um dia eu sentir necessidade de exercitar meu latente instinto maternal, eu prefiro adotar, porque assim não aumentarei o número de pessoas no mundo mas vou contribuir - infimamente - para uma sociedade melhor. :)

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  4. Sabe que depois de acompanhar a maternidade de minhas duas irmãs tbm passei a ter dúvidas sobre ter filhos?! Como é difícil manter o equilíbrio! O trabalho é árduo demais e às vezes td que se quer é um momento zen e com filhos isso é impossível. Embora eu deva admitir que sentir aqueles bracinhos te apertando massageia o teu coração de tal forma que te faz querer um bb para vc tbm.
    Concordo que o mundo só vai piorar e que nunca garantiremos o ideal, mas a vida é assim... Então, se é para ser mãe que se seja mãe, a melhor que pudermos.

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  5. Uhn, sempre aparece um do contra não é? Bem vou fazer o papel de chato então, mas com muito carinho, porque acho que quem fez a leitura que você fez da sua avó e da sua mãe merece muito carinho.

    Carinho para que venha a compreender que não é bem assim. Que lembramos do passado com olhos de nossas mágoas presentes.

    Acredito que a maneira delas e dentro das suas circunstâncias sua avó e sua mãe amaram muito aos filhos e foram felizes.

    Pense que a razão maior delas existirem é você linda, e feliz. Se você for feliz, onde elas estiverem estarão muito felizes e todas essas mazelas terão valido a pena.

    Acho também que há um mal entendido na questão das boas maneiras à mesa e o que elas REALMENTE significam sobre convivência.

    Mas para isso peço que dê uma olhada no meu blog que é sobre isto. Em resumo, e peço que pense sobre isto, o mal só vem do mal. O cansaço, as irritações suas ou de seus antepassados vieram das dificuldades, dos defeitos pessoais, não do amor, esse amor que leva aos filhos. O amor supera tudo mesmo. Acredite.

    Os filhos e todas as pessoas podem ser muito felizes mesmo num mundo imperfeito porque os defeitos podem ser perdoados, superados, suportados. Não desista de ter filhos por este motivo. Abraços,

    Fica então aqui a minha sugestão de link com temas para aprofundar a formação humana em família.

    Vida em Sociedade: Boas Maneiras, Virtudes Humanas e Cristianismo para a Vida Cotidiana. Informação Útil para a Família - Material de Reprodução Livre e Gratuita - Brasil - Ano IV -
    http://vidaemsociedade-sa.blogspot.com/

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  6. "Pelo que vejo, há pais criando os filhos como cachorros: dão comida, água, contratam um treinador (escola) para educá-lo e passeiam com eles de vez em quando. Ensinar seu filho a chamar os avós de “senhor” e “senhora”, lhes pedir “bença”, não lhes ensina respeito ou consideração. Mostrar a eles como se comporta à mesa não vai lhes dar noções de moral ou convivência social. Acho que os pais de hoje pensam que educação é mais uma questão de aparências do que de criação mesmo."

    Disse tudo... sou educador, já passei por poucas e boas por conta de pais que acham que a escola é quem deve, via de regra, ensinar o que cabe a eles, pais.
    É incrível também ver o quanto há de jovens despreparados - e não me refiro aos casos de gente que vive na miséria, falo de gente remediada ou até muito bem de vida - para serem pais e querem viver a juventude como se os filhos fossem, - e como alguns tratam mesmo - acidentes de percurso...
    Enfim, belo texto, como sempre!

    abração!

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  7. sr., "vidaemsociedade", melhor parar de tomar prozac e começar com doses de realidade.

    perdoe-me a franqueza: você tá falando de algo que não conhece nem um pouco.

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  8. IAUSAHSHASIA

    ainda bem q o conselho não foi pra mim, pq ando querendo fazer justamente o contrário

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  9. haiehaieu tô pensando em seguir meu próprio conselho também kkkkkk

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  10. eu agradeço as mamães das lipisticks por terem dado origem a elas!

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  11. concordo.
    e olha q eu era a pessoa mais maternal e q mais queria filhos no mundo!
    quanto mais envelheço mais percebo o quanto estou menos preparada para ser mãe.
    e o mundo menos preparado para receber um filho meu.
    como vc falou não somos egoistas ao ponto de colocar um ser indefeso no mundo de hoje!

    sempre respondo como mulher casada: vou ter filhos daqui 10 anos
    e ano q vem: vou ter filhos daqui 10 anos.
    uma hora eles enchem o saco o param de perguntar. rá

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  12. Come you masters of war (...)

    You've thrown the worst fear
    That can ever be hurled
    Fear to bring children
    Into the world (...)

    You ain't worth the blood
    That runs in your veins

    Que muito desse seu contragosto esmoreça em um porvir. A vida, não esta demência virtual dos noticiários, das sôfregas aparências sociais, mas sim a impossibilidade que é, um quase improvável matemático ainda orbita altiva, belo canto quântico. Que erro antigo fique lá, não há de se repetir. E você não precisa, como sempre me pareceu fazer, seguir qualquer caminho já tomado por outros; o mínimo detalhe, muda muito, agente é que com a visão pequena não enxerga pequenas evoluções. Acredita que somos, realmente, capazes de infligir, em um ser, este ou aquele acaso para seguir? Nimguém é tão inocente (ou somente inocente). Não a ponto de não se criar, de não andar sobre aquilo que ele mesmo constrói, contruiu; influência há e existe, também, tanto que não sabemos, nesse cinza, como canta um aí, é de se esperar, por simplesmente ser possível, que muito novo virá e um olhar em ângulo distinto difere tanto tudo - paralaxe. Não saber até que ponto alguém continua sem fé em nada, em nimguém, e ainda pensar coisas assim, mas se inclinar a tanto e seguir, e pensar que um sorriso pode mudar modos, que viver é um diferente, valerá a muita beleza que nem sempre se mostra; até a lembrança de um amigo distante.
    Por mais que tendências levem uma criança para certo lado, ela vai crescer e vai ter suas escolhas para fazer e vai moldar a si mesma, mudanças existem. Talvez - e me despeço com uma pergunta - não seria mais razoável intuir que trazer à vida entes dormentes na imensidão, os quais, quiçá, mais do que se suspeita, escolhem que ventre abarrotar, quando da união de dois que verdadeiramente (e maturamente) se amam, não é uma lucidez nessa loucura toda?


    You'd better call on evolution
    Better way to make a revolution

    ResponderExcluir
  13. CORREÇÔES

    Come you masters of war (...)

    You've thrown the worst fear
    That can ever be hurled
    Fear to bring children
    Into the world (...)

    You ain't worth the blood
    That runs in your veins



    Que muito desse seu contragosto esmoreça em um porvir. A vida, não esta demência virtual dos noticiários, das sôfregas aparências sociais, mas sim a improbabilidade que é, um quase impossível matemático, ainda orbita altiva, belo canto quântico. Que erro antigo fique lá, não há de se repetir. E você não precisa, como sempre me pareceu fazer, seguir qualquer caminho já tomado por outros; o mínimo detalhe, muda muito, agente é que com a visão pequena não enxerga pequenas evoluções. Acredita que somos, realmente, capazes de infligir, em um ser, este ou aquele acaso para seguir? Ninguém é tão inocente (ou somente inocente). Não a ponto de não se criar, de não andar sobre aquilo que ele mesmo constrói, construiu; influência há e existe, também, tanto que não sabemos, nesse cinza, como canta um aí, é de se esperar, por simplesmente ser possível, que muito novo virá e um olhar em ângulo distinto difere tanto tudo - paralaxe. Não saber até que ponto alguém continua sem fé em nada, em ninguém, e ainda pensar coisas assim, mas se inclinar a tanto e seguir, e pensar que um sorriso pode mudar modos, que viver é um diferente, valerá a muita beleza que nem sempre se mostra; até a lembrança de um amigo distante. Por mais que tendências levem uma criança para certo lado, ela vai crescer e vai ter suas escolhas para fazer e vai moldar a si mesma, mudanças existem. Talvez - e me despeço com uma pergunta - não seria mais razoável intuir que trazer à vida entes dormentes na imensidão, os quais, quiçá, mais do que se suspeita, escolhem que ventre abarrotar, quando da união de dois que verdadeiramente (e maturamente) se amam, não é uma lucidez nesta loucura toda?


    You'd better call on evolution
    Better way to make a revolution

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