De blog em blog: "Tranqüilidade"

Tranqüilidade é isto:

“Ai que prazer
não cumprir um dever.
Ter um livro para ler
e não o fazer!
Ler é maçada,
estudar é nada.
O sol doira sem literatura.

O rio corre bem ou mal,
sem edição original.
E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal
como tem tempo, não tem pressa..."

Fernando Pessoa

Já, isto é tédio:

“O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
Não perguntam nada.”

Carlos Drummond de Andrade

Isto aqui, por sua vez, é suicídio:

"Que direito tinha a Natureza de trazer-me ao mundo obedecendo às suas pretensas leis eternas? Sou consciente. Por que essa Natureza me criou sem meu consentimento, a mim, consciente; isto é, capaz de sofrer? [...] Sim, se eu fosse flor ou vaca, talvez me sentisse feliz. Mas nada há que me faça experimentar alegria. Até mesmo a sorte mais elevada, a de amar aos seus semelhantes, é vã, visto como amanhã tudo ficará destruído, tudo voltará ao caos. [...] Em minha condição incontestável de quem pergunta e responde, de juiz e réu, condeno a Natureza, que me criou insolentemente para que sofra, a desaparecer comigo. [...] Como não posso executar toda a minha sentença, destruindo a natureza ao mesmo tempo que a mim mesmo, suprimo-me a mim mesmo, entediado de suportar uma tirania de que ninguém tem culpa."

Fiódor Dostoiévski

Uma coisa leva à outra, por isso os índices de suicídio em países desenvolvidos conseguem ser até trinta vezes superiores aos de países pobres, especialmente dentre jovens. Nas nações ricas, as pessoas não têm tanto com o que se preocupar como têm os miseráveis subdesenvolvidos; portanto, possuem vidas mais tranqüilas.

A tranqüilidade, entretanto, deve, precisa ser algo passageiro, porque é da natureza do ser humano estar em constante luta, seja de qualquer espécie. Isto é, a tempestade é necessária.

Por óbvio, o ideal seria que nossas conflitos fosses apenas obstáculos a serem superados e, não, destruição e caos, como prevê Dostoievski. Por outro lado, pelos dizeres do russo, se considerarmos que realmente a tranqüilidade leva ao tédio, que, por seu turno, leva ao suicídio, então se pode concluir que é inerente à tranqüilidade o caráter de ser passageira.

Acho que temos mais um post nonsense (para não quebrar a corrente).

Obs.: Sugiro que não considerem “suicídio” literalmente; apenas seria no sentido de auto-sabotagem ou os famigerados “caçar confusão” ou “procurar chifre em cabeça de égua” e por aí vai.

Obs.2: Acho que conheço muitas flores e vacas que são extremamente alegres (haha).

Outros posts sobre o mesmo tema podem ser encontrados aqui:

Geny Fiorella

Pensamentos Diretos

Contando Pensamentos

Pensamentos de uma Sonhadora

Lugar de Maria

Bruna Celia

Caroline Motta

Vou de Scarpin

Quero ser vermelho!