segunda-feira, 21 de março de 2011

No Lipstick Convida 2: Alisson da Hora - Um mundo governado por mulheres

Sempre me repugnaram os desabafos. Apesar de serem absolutamente necessários às vezes, eles têm a capacidade de nos deixar pensativos por demais, nos deixar em caquinhos que são complicados de recolher.

Isso aqui não é um desabafo. Digo isso para livrar a minha cara e para que o texto tenha um mínimo de credibilidade. Digamos que seja uma reflexão, atendendo ao que as meninas do NOlipstick pediram quando do convite.

Então, vamos lá.

É complicado a gente precisar de uma data simbólica para tudo. Mostra o quanto ainda somos muito parentes dos nossos ancestrais primitivos, que tinham uma memória de amendoim, presa às necessidades do imediato. Ou de nossa memória mais contemporânea, que só faz questão de lembrar o que nos convém. Então, dias de celebração, para qualquer coisa, sempre me pareceram desculpas esfarrapadas para livrar a consciência do esquecimento. Seja Natal, Dia das Mães, Dia dos Pais, dos Avós, dos Pobres, dos Namorados.

Para mim, ao menos, o Dia da Mulher, com toda a relevância, para mim fica parecendo sem sentido. Não, isso não é uma frase saído de uma mente sexista (mesmo com todos os sexismos plantados em minha mente ao longo da vida, sejam pelos “valores familiares”, sejam pela mídia, das quais tento me livrar, sempre), é mais uma constatação de alguém que vive(u) em um mundo governado por mulheres.

Filho de mãe solteira, numa época em que isso ainda era considerado uma afronta aos “bons costumes”, com uma irmã mais velha, mesmo com todos os homens da família (tolos e tontos; ausentes e desatentos como somente os homens podem ser) vi-me fatalmente governado por um número absurdo de mulheres ao longo da minha vida. A mãe, a irmã, a avó, as tias. E, contrariando os mais ortodoxos freudianos, não me tornei gay.

Hoje é mais fácil de mensurar o quanto tamanha influência provocou em minha vida. E o quanto nós aprendemos do óbvio e do insólito das mulheres. São machistas, às vezes. De como é necessário o silêncio para fugir da fúria da TPM. Do saber ouvir até às coisas mais mínimas, mas sempre tão importantes.

Aprendi com minha avó a gostar de música boa, a prestar atenção ao que uma mulher fala e a se fazer de doido quando ela fala demais. Com a minha mãe aprendi o quanto, sim, as mulheres podem ser ao mesmo tempo perdulárias e controladas. Paradoxalmente, também aprendi que, ao mesmo tempo em que você ouve demais, tem de chegar, às vezes nem sempre delicadamente e dizer, “ei, não é bem assim, minha filha, baixa a bola”. Mas minha mãe é machista e eu posso ter aprendido errado. Com a minha irmã aprendi a cozinhar e que mulheres podem ser bem cruéis quando usam essa arma: a comida. Acho que até hoje não topei com alguma namorada que não soubesse cozinhar. Por outro lado, faria questão de cozinhar para alguém que eu gostasse demais. Isso a gente aprende também.

Depois vieram as amigas, as namoradas e se aprende que se cada mundo é um mundo, as mulheres conseguem multiplicar ainda mais tais mundos. E o carinha que se imagina o entendido da alma feminina (Chico Buarque e Carpinejar inclusos) sempre vai ter de se desdobrar para tentar preencher aquela lacuna nunca dantes vista. E vai se ferrar senão tentar, ao menos.

Atualmente eu tenho mais amigas do que amigos por um motivo simples: nestes tempos interneticamente pós-modernos as mulheres parecem que conseguiram fugir com mais desenvoltura da infantilização que grassa nos corações e mentes. Não que estejam imunes, mas a sensatez feminina é mais rápida, em muitos casos, para se tocar e fugir do ridículo e do medíocre.

Acho que foi justamente isso que um mundo governado por mulheres em que vivi (vivo) me proporcionou. Não que me impeça de ter os meus deslizes, mas com certeza me faz pensar logo no quanto o respeito sempre deve sobrepor-se a quaisquer preconceitos. Enquanto isso não for regra, outros seres humanos do sexo masculino continuarão olhando somente para os seus umbigos, sem a mínima desenvoltura para admitir o quanto o mundo seria melhor se houvesse o mínimo de respeito.


Sobre o autor: Alisson da Hora é nosso amigo da internet por identificação de pessimismo, pode ser encontrado no twitter e nos blogs Ao Perdedor, as Pancadas e Todo Anjo é Terrível

*Você quer saber a opinião das No Lipstick´s sobre isso? Então aguarde o próximo post!

16 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Quando se tem a sorte (ou não. hehe...) de conhecer Álisson, e de lê um texto dele desse tipo, a gente percebe o quanto todas essas mulheres que passaram, (as que passam, as que permanecem também), fizeram um bom trabalho...

    Só fiquei curiosa pra saber com qual delas ele aprendeu a alfinetar as pessoas com tanta sutileza: "E o carinha que se imagina o entendido da alma feminina (Chico Buarque e Carpinejar inclusos)". Rs

    Lindo, querido, adorável... sou suspeita pra falar.

    Parabéns, mulheres da vida do Álisson. ^^

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  3. Eu achei o post bonito, mas os demais comentários vou deixar pra quinta feira!

    E valeu por ter participado, Alisson!

    =)

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  4. Gostei muito da participação do Álisson.

    "Um mundo governado por mulheres"

    Um mundo com mais fases do que super mário world, tsc!


    Ah, que pena ter q esperar o próximo post pra comentar. Hunft!

    Beijo p o Sr. Álisson da Hora =D

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  5. Muito bom o post do Álisson... Mas eu já esperava que fosse assim!

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  6. Eu mostrei o post pra minha mãe, que também achou muito bonito, mas, para não perder a oportunidade, disse "Essa é a sua semana de cozinhar, sim?"

    hahaha, é praticamente um regime de escravidão... tsc tsc

    obrigado, Alê,Laila e Ana. =)

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  7. Quando é assim, geralmente o único homem da casa vive como um reizinho e se torna pior ainda..
    Não conheço a sua pessoa, mas como a Alê disse, parece que foi feito um bom trabalho. É bom ver isso, foi bom ter lido esse texto.

    =)

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  8. "as mulheres parecem que conseguiram fugir com mais desenvoltura da infantilização que grassa nos corações e mentes. Não que estejam imunes, mas a sensatez feminina é mais rápida, em muitos casos, para se tocar e fugir do ridículo e do medíocre"

    Bonito isso né? Eu li num blog!

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  9. isso porque você se diz machista, hein, Laila D.

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  10. Eu concordaria completamente com o meu querido Alisson se ele não tivesse engolido - propositalmente ou não - o fator histórico.

    Esse muda tudo. Até os que vivem num mundo governado por mulheres...

    Independente disso, porra, tu escreve bem, ó!!!

    Beijo Alisson, beijo pras meninas!
    Adorei isso!

    Moni

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  11. gabriela hahaha como td mulher incompreendida em seus mil mundos hahah tenho meus momentos feministas tb!

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  12. o feminismo deveria ser a regra, não a exceção
    mas é como você disse: são mil mundos mesmo

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  13. A parte que fala das referências e da educação das mulheres eu me identifiquei bastante. Comigo aconteceu algo parecido. É uma formação diferente, sem ter a "referência machista" do nosso lado

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  14. "Prestar atenção ao que uma mulher fala e a se fazer de doido quando ela fala demais". Acho que essa foi um dos mais sábios ensinamentos.

    Ótimo texto, como sempre, Alisson. ;)

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