quinta-feira, 22 de março de 2012

Direitos, liberdades e garantias: onde?

Todo dia vou pra academia a pé, exceto quando chove. É uma quadra de distância e é um desperdício de combustível ir de carro. Além disso, é ótimo aproveitar a caminhada. Odeio esteira; sinto estar fazendo algo inútil: ando, ando e não chego a lugar algum. 
Há pouco mais de um mês, abriu uma pequena confecção na rua da minha casa. As portas ficam abertas e quem está lá dentro consegue ver quem passa na rua e vice-versa. E há pouco mais de um mês que perdi meu sossego. 
Todo dia em que passo na calçada em frente a esse lugar um funcionário mexe comigo. Não diz grosserias, não se aproxima; só grita "psiu" várias vezes até que saio de sua visão. Todo dia, todo dia, na ida e na volta. 
 Não sei se minha irritação é muito visível ou extremamente notória mas, se o é, serve de estímulo pro babaca. Parece que, quanto mais me incomoda, mais a intensidade e o volume da atitude do estúpido aumentam. 
Ontem ele falou comigo pela primeira vez. Gritou "psiu" algumas vezes e "sua branquela", daquele jeito que é pra vizinhança inteira saber que já que eu não dou moral ela vai me desdenhar. E ontem eu não tolerei e respondi:
_ Vai tomar no cu, seu broxa! - também para os vizinhos escutarem. 
Fez-se um silêncio total, depois umas risadas, provavelmente de seus colegas, homens e mulheres, quando ele começou a gritar de novo que eu estava muito "nervosa" e sei lá mais o quê. Fiz questão de andar o mais rápido possível, sempre olhando pra trás. 
Veja bem, eu sempre estou de camiseta masculina, calça de malha abaixo do joelho e rabo de cavalo, o que é uma descrição completamente desnecessária, porque a forma como a mulher se veste não dá o direito de o cara se portar dessa forma e tampouco a evita! 
Homens podem achar que isso é um exagero, que é uma simples brincadeira, que o cara apenas está me elogiando e assim convido-os a imaginar a seguinte situação: um homem gay do triplo do seu tamanho fazendo "psiu" pra você todos os dias e deixando claro que está "interessado" no pior sentido da palavra. Sei que homens não são grandes especialistas em empatia tampouco em se colocar no lugar da vítima, mas esforcem-se! 
Isso não é uma piada, não é um elogio, não é uma coisa à toa; é uma humilhação. Esse homem tolhe minha liberdade de locomoção! Hoje minha mãe me levou e buscou, pois tenho medo do que este filho de chocadeira pode fazer contra mim, receio de maiores humilhações e do pior. 
Minha condição de mulher me impede que eu faça tudo que os homens fazem? NÃO! É o machismo da sociedade brasileira que não permite que uma mulher rejeite um homem, como no caso da mulher que morreu com um tiro ao responder a uma cantada durante o carnaval no Rio de Janeiro desse ano.
E quando se toca no assunto do que eu posso fazer contra isso a resposta é nada, porque as garantias que asseguram meu direito de andar em espaço público em paz são ineficazes. O comportamento desse indivíduo configura uma contravenção penal:

Art. 61. Importunar alguém, em lugar público ou acessível ao público, de modo ofensivo ao pudor: Pena – multa. 

E poderia até ser considerado também o crime de injúria: 

Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro: 
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. 

Mas pensem bem, com o aparato policial que nos é disponibilizado e com o sexismo intrínseco ao poder público, qual viatura seria mandada em razão de um cara mexer com uma mulher na rua? Eu teria que esperar o cara me apalpar ou me agredir fisicamente para ter assistência policial. 
Na época em que vivemos, formalmente a mulher tem todos os direitos dos homens: votar, trabalhar, estudar, ser independente e autônoma, ser chefe de família e até do Executivo federal, mas na realidade não podemos nem andar na rua sem sermos lembradas todos os dias da nossa condição de fêmea (e não de ser humano) e de que ainda somos apenas alvos e objetos das vontades masculinas. Então, não, nós ainda não conquistamos tudo que os homens possuem por mais óbvio que isso possa parecer.

3 comentários:

  1. É complicado mesmo! Fico puta com essas coisas, evito andar a pé em certos locais por conta dessas coisas... E não adianta, de carro tb acontece.
    Uma vez eu a Lana e o Juju fomos agredidos nos Gordons por um idiota desses, o pessoal da lanchonete nao fez nada, entramos no carro e o cara fechou o nosso carro... Foi horrível! E a polícia demorou pra chegar, e a gt n conseguiu anotar a placa do filho da puta...
    Enfim, temos muito a evoluir no quesito respeito ao próximo, e em alguns casos, os homens mais do que as mulheres.

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  2. Eu lembro desse dia. UNS ESCROTOS...... As pessoas poderiam ser mais civilizadas e respeitar os direitos do próximo.

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  3. Eu proponho uma solução. Ao invés de chamar a insuficiente força policial, eu arrumo três barras de alumínio lá no trabalho da Nó, e vamos as outras três No-Lipstick's escoltar vc no caminho da academia. =D

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