Pílula de autoajuda No Lipstick, no. 1: Tudo bem não superar, tudo bem.

OBS: antes de ler esse post saiba que ele está baseado no pré requisito número 1 dos livros de autoajuda > “todo escritor de autoajuda dá conselhos sobre coisas nas quais não obteve nenhum sucesso”.

É estranho pensar em como isso foi acontecer, mas muitas de nós, mulheres, acreditam que faz parte de ser “moderna” e “bem resolvida” não sofrer por “amor” e coisas afins. Então, além de todas as ansiedades que já temos por causa de coisas concretas, aparece mais uma angústia, devido a suposições de que haveria um modo de escolher o que sentir, por não esquecer, por não superar, por não resolver tudo com apenas um pote de sorvete, ou um porre, ou uma viagem, ou longas noites e dias de sono.... Não há nada que resolva, na verdade.

O problema quando você se sente detonada por relacionamentos amorosos é muito semelhante ao que acontece quando você se sente detonado por uma amizade que foi pro lixo. A sensação é de que aquilo sempre foi lixo, e você não percebeu em momento algum, talvez porque você ame lixo, talvez porque você se contente com lixo, talvez porque você seja um lixo... E todas as hipóteses decorrentes do fim que aumentam a angústia. Quando isso acontece com uma amizade, logo temos alguém nos confortando, uma vez que é comum que tenhamos várias amigas. Rapidamente continuamos, seguimos em frente... E a coisa flui.

Contudo, a monogamia não permite que as coisas sejam tão fáceis quando se trata de um relacionamento, ou da expectativa de um relacionamento (porque sim, as expectativas existem, leia minha opinião sobre isso aqui), não existe um novo amor a disposição para nos confortar, pelo menos não a curto prazo. E, ao invés de seguirmos em frente, e esperarmos calmamente que as coisas voltem ao normal, adicionamos à angústia do “porque ele fez isso” a angústia do “porque eu não esqueço”. Pra quê, minha gente? Esquecer gente que nos faz mal é realmente uma coisa muito boa, mas o ser humano não é assim tão automático, os sentimentos não são assim tão simplórios e não existe pergunta ou fórmula que vá acelerar o esquecimento.

A gente não esquece porque ainda gosta, e a gente ainda gosta porque a gente é trouxa, e não adianta cobrar de si mesmo um comportamento ideal, porque não somos super-heróis, não mandamos nos nossos sentimentos, quando muito, mandamos nas nossas atitudes. Não conseguir controlar os sentimentos não faz de você uma mulher pré histórica, mal resolvida, problemática, mexicana, nada disso, só mostra que você é humana. Na verdade, é a maneira como lidamos com esses sentimentos que insistem em perdurar que definem nossos adjetivos. Contudo, se você não esqueceu e correu atrás, você não é menos bacana por isso. Se você não esqueceu e chorou a noite inteira, você continua digna. Se você tomou um porre e foi pra micareta, também. Você continua digna, humana, bacana. Apesar de eu achar que algumas dessas atitudes só aumentam o sofrimento, nenhuma delas diminui o que você realmente é, nada te rouba as virtudes que você possui, a não ser que você decida realmente abdicar tais virtudes.

Eu acredito que a melhor coisa a fazer é seguir em frente, cuidar da vida, deixar que o cotidiano se encarregue de te mostrar que fica muito bem sem um trouxa ocupando sua agenda. Trabalhe mais, saia com seus amigos, estude, leia um livro... Lide com o sentimento, tente diminuir a importância dele na sua vida, não o mencione em todas as conversas, mas sobretudo, não fique se perguntando “será que já esqueci?”, “quando vou esquecer?”... Apenas tenha fé que um dia você vai esquecer e pronto. (sorte minha que minha amiga atéia é feliz no amor, porque seria muito difícil convencê-la a ter fé). Porque você vai esquecer, eu vou esquecer, minha amiga vai esquecer... Todos vão esquecer. Porque se o “amor” é tudo isso que dizem por aí, eu acredito que ele também é reciproco. Se não é reciproco, não é amor, se não é amor, vai ser esquecido. E, um dia, quando o cara voltar a te procurar, vamos ter o seguinte diálogo:

A: - Acho que vou precisar matá-lo, parece que é o único jeito dele me deixar em paz.

B: - Mas você ainda sente alguma coisa por ele? Além de vontade de matar?

A: - Não só vontade de matar mesmo.