segunda-feira, 17 de junho de 2013

Das filas eternas

Dez anos passam rápido demais, ou talvez a fila da saudade seja mais rápida do que as outras todas. Sabe, tenho entrado em muitas filas demoradas desde então, mas pouquíssimas são tão acolhedoras quanto a fila das memórias que tem a gente, a gente e aquela casinha lá longe no meio do nada, a gente e aquele tanto de cachorrinho que você me deixava cuidar, a gente e aquele inesquecível trágico dia em que você me deixou esperando demais no colégio e eu fugi de lá e nos perdemos um dia inteiro, a gente viajando escorregando naquelas estradas de puro barro, a gente enfrentando as minhas gripes mensais e você imitando minha voz de nariz entupido, a gente andando de bicicleta no calçadão e eu desesperada pra você não sentar na minha bike de rodinhas e quebrar, a gente comendo quibe recheado de ovo escondido da dona mãe, a gente brigando pelo canal da TV, a gente lutando no sofá da sala e eu sempre saindo machucada, a gente bebendo nossa coca-cola geladíssima, a gente assistindo filme e eu acabar dormindo em cima da sua barriga, a gente implicando o povo aqui de casa, a gente ensinando a tabuada pro menininho preguiçoso, a gente brigando pelo horário que eu não queria voltar para casa, a gente e a nossas gordices, a gente como éramos bons juntos... E o que é legal nisso tudo? Certamente é ter essa nossa fila particular, quando todas as outras filas estão impossíveis, Saudades. 

Um comentário:

  1. texto mais lindo, mics.

    a saudade dói, mas sabe ser bonita tb. taí a prova.

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