sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Pokémon Go e nossas vaidades

Já faz algum tempo que a internet, mais precisamente as redes sociais, são um grande, complexo e hostil campo de batalha. Tão logo surge um assunto (pode ser um evento, um jogo), indivíduos se organizam e reorganizam em grupos, geralmente sendo: 1 - os favoráveis, 2 - os contrários, 3 - os que reclamam do fla x flu, 4 - os que investem um tempo considerável dizendo que não se importam com nada disso, e finalmente, 5 - os que realmente não se importam.


Aí, veio o Pokémon Go, e não foi diferente. O jogo nem estava disponível oficialmente no Brasil, e já tinha gente jogando, ou se irritando com ele. As teses sobre a CIA ter acesso a fotografias da sua casa, questionamentos à inteligência de quem aderiu ao game, defensores apaixonados do outro lado, e todo o combustível para alimentar a flame war da semana estava posto.  Do jeito que Pokémon Go veio, passou... e a internet logo encontrou outros motivos, razoáveis ou absurdos, para as disputas semanais.


Num dia qualquer de 1999, uma professora resolveu “pegar no meu pé” diante dos meus 40 e poucos colegas. De acordo com ela, eu ficava muito tempo no computador, e “essas coisas de computador e internet não dão futuro pra ninguém”. Eu rio disso (e dela) até hoje. Ainda que nunca tenha conseguido me ensinar química, ela me ensinou, desde os 14/15 anos, que se não compreendo uma nova aplicação tecnológica, é melhor ficar na minha. 


Um dia, houve quem achasse que fãs de Beatles eram pessoas idiotas (no sentido mais primitivo e literal aplicado à palavra), mas há um consenso estabelecido hoje: os Beatles revolucionaram a música. Talvez um dia a tese de que Game Of Thrones está revolucionando a TV, seja consagrada pelo tempo.


Pode ser que a novidade não seja nada, mas pode ser que ela mude o mundo... e o mundo tem muitas dimensões tecnológicas e culturais que podem ser mudadas, revolucionadas, por coisas que não entendemos. Nem toda febre contagia todo mundo. 


Nunca entendi o Snapchat. Ao invés de questionar a inteligência de quem o utiliza, digo que ele me faz perceber que estou ficando velha. Eu entro lá e não entendo nada; não entendo porque as pessoas estão lá, ou qual o sentido daquilo; Snapchat pode ser uma bobagem, ou eu posso estar obsoleta. Ou as duas coisas.


Às vezes, enxergar uma besteira sem sentido no que o outro está fazendo, no gosto alheio, não é sinal de superioridade intelectual. Às vezes é exatamente o contrário: não entendemos porque estamos defasados, ou porque nós próprios podemos ser os limitados.  Precisamos aprender a conter nossa vaidade intelectual. 


Vale pra Snapchat, Pokémon Go. Vale pra flame war da semana que vem, também. Porque todos temos o direito de gostar ou não, concordar ou discordar. Ao mesmo tempo, temos o dever moral de entender que a opinião de um indivíduo, é exatamente e somente isso: a opinião de um indivíduo, o que está muito mais próximo de 0% que de 1% do mundo, que dirá de ser uma verdade absoluta e incontestável.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Sobre uma amizade vitalícia.

Eu já não sei se são 16 ou 17 anos de amizade, mas tenho certeza que contar não importa... Foram muitas vezes em que sofremos juntas, choramos as dores e as raivas uma da outra, rimos, bebemos... Nos aconselhamos, mesmo sabendo que não íamos ouvir... E nesse meio tempo, realmente muita coisa mudou...

Mudou que agora você acha que já não me conhece tão bem e quando eu desapareço você pensa que sou caso de rehab, rs. Mudou que agora a vida é mais pesada e não sobra mais tempo para ligações semanais que podem durar horas. Mudou que a gente já não leva muita fé no amor, que perdemos a pouca paciência que tínhamos, que assustamos as outras pessoas que amamos... E que paramos de beber quando não conseguimos e não mais porque queremos ser ajuizadas. Mas foi só isso que mudou...

Eu ainda sou a mesma... Sou sua amiga que fala demais, que é ansiosa, que come um monte de chocolates de uma vez, que escolhe os caras errados, que esquece de ter medo das coisas, que esquece o que aconteceu na noite anterior, que fica com raiva dos caras que aprontam com você, que fala pra você não judiar dos caras bonzinhos, que vive num mundo bagunçado, que não penteia os cabelos todos os dias, que anda de roupa amassada...

E se as vezes eu não conto alguma coisa, é porque não quero te preocupar, ou também porque aprendi que falar sobre os meus problemas e loucuras não vai fazer com que eles se resolvam... Mas em momento algum é porque tenho medo do que você vai falar ou medo de você não me entender. De certa forma, você é a minha certeza de aceitação... Mesmo quando não nos compreendemos, nos apoiamos e isso não mudou.  Se temos outras grandes amigas, é porque aprendemos uma com a outra a cultivar amizades saudáveis... Não é e nunca vai ser porque alguém vai tomar o seu lugar.

Te amo pra sempre. 

quarta-feira, 11 de maio de 2016

Dois a rodar

É engraçado pensar em tanta coisa que escrevi pensando em você, em um passado distante, quando eu ainda acreditava que nossos sentimentos tinham alguma relevância... Ou o que eu sentia.

Quando a gente era criança o bastante pra se vangloriar das noites etílicas... Quando eu ainda não sabia que tudo era metafórico pra você. Eu me divirto lembrando do seu pavor, da nossa briga, de tanto desentendimento por uma coisa tão óbvia e tantas vezes dita. Não que tenha sido engraçado quando realmente aconteceu... Mas foi quando descobri que por mais que você deixe a outra parte saber, ela ficará surpresa ao te ver fazendo aquilo que você disse que faria.

Provavelmente nunca vou ficar com alguém que saiba tanto de mim quanto você já soube, mas não acho que é necessariamente uma questão de trauma. Naquela época eu tinha menos história, mais crenças... E acreditava muito mais na necessidade de me deixar transparecer do que acredito agora.

Eu não cometo sincericídios como antes, embora chegue bem perto de fazê-los,..  não pretendo deixar alguém tão chateado novamente, embora não me importe muito com o que as pessoas pensam de mim.., Já aprendi que nem sempre as  pessoas estão preparadas pra saber o que penso delas e que nem sempre eu tenho direito de fazê-las saber.

Não que empatia  fosse o forte de qualquer um de nós... Acho que nosso forte sempre foi encontrar subterfúgios e coisas difíceis o suficiente para que não fossemos obrigados a vivê-las... E também culpar terceiros pelos acidentes no percurso.  Você superou essa fase mais fácil que eu, um dia eu chego lá.

Mesmo que pareça, não é por saudades do que eu sentia que eu escrevo agora, é por vontade de acreditar...  Você me ligava a alguma fé... Eu não consigo lembrar como você fazia... Talvez não fosse uma coisa que você fizesse conscientemente.

E posso estar bem confusa... Talvez fosse mais lógico que nunca tivesse existido esse projeto de nós dois e que desde então eu já tivesse aprendido que todo esse sentimentalismo não tem serventia alguma.  Vai saber...

 Você teria sido meu amigo da mesma forma e provavelmente teríamos brigado da mesma forma também. Em algum momento da nossa existência, um porre separaria nossos destinos.

Não importa o quanto as coisas mudem, sempre seremos muito pequenos para sobreviver a algumas garrafas...

segunda-feira, 2 de maio de 2016

Quando é que tudo se acalma?

Eu juro que eu me esforcei. Se vocês estivessem aqui, teriam me visto parada, algumas vezes contemplando o nada, outras vezes observando o cachorro e não enxergariam esforço algum... mas dentro de mim, se vocês pudessem ver, eu me esforcei bastante.

Por sorte vocês não estão aqui.. Pois se você vissem a bagunça em que me coloquei, a confusão que me permiti fazer, vocês estremeceriam e perderiam toda calma que aprenderam a ter a longo dos anos, me diriam todas as verdades que vocês filtram pra não me fazer desabar...

Hoje eu pensei em tudo que vocês fizeram por mim, em todas as promessas que eu fiz de cumprir meu papel. Eu lembrei de todas as vezes que vocês se esforçaram pra escrever algo que me estimulasse, que me fizesse sair da bolha... Eu refleti sobre toda a sua esperança e sobre como tenho feito cada parte dela se tornar descrença...

Em alguns dias eu queria que vocês enxergassem dentro de mim, que percebessem que não é por mal que enlouqueço, que não é por mal que me afasto... Por outrol lado, tem tanta coisa o de mim que espero que vocês nunca saibam, que em outros dias eu não quero que vocês me vejam de forma alguma.

Hoje eu sei que quero estar com vocês na mesma proporção que quero estar longe de vocês... Amanhã eu posso esquecer disso... Porque todas as coisas tem oscilado numa frequência tão alta, todas as ideias tem mudado antes que eu consiga entendê-las, todos os sentimentos tem me feito vomitar palavras idiotas pelos dedos e pela boca.. Tudo está tão confuso e disforme... Que eu não sei como vou me sentir daqui a 5 minutos....


Então eu estou aqui, há algumas horas, congelada, deixando todos esses pensamentos vagarem pela minha cabeça... Querendo entender o que está acontecendo agora, querendo sumir, mas tentando ter esperança de que uma hora tudo se acalme...




quinta-feira, 31 de março de 2016

Lola

Algumas pessoas fazem parte de nós.. Desde que existimos elas estão aqui, enquanto existirmos estarão aqui, mesmo que não mais fisicamente...

Por mais que eu procure, nunca vou saber qual é a minha primeira lembrança... Se é ela chegando com o tio, trazendo a vó e muito amor... Se foi a leitura dos dois livrinhos daquela estante que ela não se importava que eu bisbilhotasse... Ou a devolução dos brinquedos escondidos, quando ela  decidiu que não merecíamos castigo... Mas seja qual for a lembrança, é uma dessas repletas de amor...

A última vez, eu tenho bem marcada... Não saí do hospital pensando em nunca voltar a vê-la, achei que eu teria coragem, força e oportunidade de voltar... Mas eu chorei assim que saí, porque de certo eu não estava me enganando tão bem, alguma parte de mim sabia que era a última vez... Eu não voltei... Ainda não, nem pra perceber o tamanho do vazio...

Há alguns dias percebi que é estranho procurar um emprego, prestar um concurso, sem saber que ela está torcendo por mim... Ainda que eu escute a voz dela dizendo que eu vou conseguir... Ela sempre disse que eu conseguiria tudo que eu quisesse, ela sempre rezou por tudo que eu quis, ela sempre soube incentivar como ninguém...

Aquela senhora elegante, que gostava de dançar, que chamou a atenção na minha formatura da oitava série. Quem liga pra formatura da oitava série? Ela ligava, se importava com qualquer oportunidade de estar junto... E estava lá, linda, de preto... Algum brilho em sua roupa, mas não maior que o brilho dos seus olhos. Não posso dizer que foram os olhos mais brilhantes que conheci, mas não tenho dúvida que foram os que brilharam por mais tempo...

Não vou esquecer da fase das bonecas e dos mantos bordados... Não vou esquecer da fase da mega sena com o caderninho de sonhos... Não vou esquecer nenhum detalhe... Nem da fase em que ela tinha lapsos de memória e um dia perguntou quem eu era, a única vez que tivemos uma conversa em que ela não sorriu.

Acho que nunca vou conseguir escrever algo que realmente represente todo o meu amor e toda minha saudade... Acho que tanta força de lutar, tanta vontade de viver, acabou me dando a falsa impressão de que a despedida nunca chegaria... Então ficam essas palavras mais ou menos, que não estão bem escritas, mas que ela acharia suficiente... Porque eu não poderia deixar minha tia mais ciumenta sem um texto de despedida.


quinta-feira, 17 de março de 2016

Dias de choro



Acho que ninguém gosta de chorar... Se existe quem gosta, me surpreende... Porque eu, na verdade, odeio. Só choro quando os planetas se alinham e é uma merda... Se fosse verdade que homem não chora, talvez eu invejaria essa característica... Mas parece que o choro é livre, bastante democrático e que todo mundo chora.

Depois do choro, continuo pensando no que estava errado. Me disseram que a gente chora porque os neurônios estão estressados e precisam de alívio.. porém eu não me sinto aliviada. Depois dos meus episódios de choro eu fico reflexiva e cansada. É como se eu estivesse buscando entender quem eu sou, o que aconteceu e o que mudou para fazer com que eu, a deprimida dos olhos secos, me derramasse em lágrimas.

Não foi o grito do chefe, não foi a distância dos meus maiores amores, não foi o medo do futuro, não foi meu descontrole financeiro, não foi o cara da vez, não foi a crise financeira, não foi o carro batido, não foi nada sozinho... Não foi nada... Foi minha fraqueza.


Deve ter sido saudades de ter a ilusão de que sou forte.