terça-feira, 29 de junho de 2010

Specks of dust beneath fingernails

O filme é fraco, o mito é distorcido, mas Fúria de Titãs tem ao menos um momento merecedor de destaque: Ainda que Ralph Fiennes não esteja em sua melhor interpretação, a aparição de Hades diante dos pais de Andromeda, para lhes dizer que os mortais são como particulas de poeira sob as unhas dos deuses vale alguma coisa.

Hoje mais cedo disse a uma amiga minha: Infelizmente Deus não dá todas as virtudes a todas as pessoas, e houveram uns que sairam em tremenda desvantagem. Perdendo alguns minutos perambulando por aí, só faço comprovar minha teoria.

Por ser uma pessoa bastante nômade, geralmente tenho uma perspectiva diferente daquela dos sedentários. Particularmente, considero esse "ângulo" que me é concedido bastante privilegiado. Quando você sempre olha o mundo de um mesmo lugarzinho, você se acomoda, se habitua, e não percebe certas coisas.

Pior que o sedentarismo territorial é o sedentarismo intelectual.
Logo no início de A Gaia Ciência, quando fala "Aos Virtuosos", Nietzsche escreve o seguinte aforismo:
Mesmo nossas virtudes devem caminhar com passo leve,
Como os versos de Homero é preciso que apareçam... e passem.

Breve interpretação textual: na verdade, ele não fala aos "virtuosos", mas àqueles que se sentem como tais, e principalmente aos que se acomodam em suas supostas "virtudes". Soa bobo, até desnecessário e óbvio, mas pode acreditar: o mundo está cheio de "virtuosos", fechados em suas mentes pequenas e equivocadamente confiantes em sua grandeza.

Como disse, minha vida nômade me permite observar coisas com mais acuidade. É curioso, quase engraçado observar pessoas com espaços de tempo superiores a meses.

Eu observo o mundo como a maioria observa os familiares que vivem em cidades distantes: encontram aquele primo uma vez a cada dois anos. Dependendo do primo, se surpreendem: Uau! Meu primo é uma pessoa que está com uma vida mais legal, mais acertado, "virou gente".
Em outros casos, bom... Você pode passar 30 anos sem ver seu primo: ele vai ser sempre a mesma pessoa, com umas rugas a mais, cabelos brancos talvez, mas sempre no mesmo lugar, e na vidinha mediocre de sempre. Aí surgem as frases "entrego pra Deus", "ele não tem jeito mesmo", e outras variantes, que a gente leva com humor pra não admitir a tragicidade da situação.

É como quando encontram um ex-colega de alguma coisa, pergunta de fulano, e o ex-colega responde: "Ah, fulano está lá, trabalhando no mesmo lugar de sempre, namorando a Mariazinha, morando com os pais... a mesma vida de sempre". Tem vezes que dá até uma depressão em pensar na vida do fulano. Tem gente que confunde estabilidade com comodismo, e eu estou falando exatamente desses casos. Por ir e vir, eu noto melhor a estagnação alheia, e a minha própria também. Mudar de cidade não resolve nada se você não evolui.
Graças a Deus, ainda que com muitos quilos a mais (que como dizem piadas e camisetas, eu sou gordo e posso emagrecer, mas e você que é feio?), eu me tornei uma pessoa melhor.

O mundo está cheio de fulanos. Aqueles, poeira sob nossas unhas. A parte engraçada é que de vez em quando, um fulano-poeira acha que sua vida ensimesmada, enfadonha, e nanométrica é algo espetacular!

Há aqueles que ignoram o heliocentrismo, e acham que a estagnação é não apenas correta, mas louvável, e que isso os colocam em um patamar superior. Os fulanos-poeira acham que o mundo gira ao seu redor.
O que não notam é que ocorre algo contrário a isso, e exceto por manifestações estapafúrdias de suas próprias existências, o mundo sequer nota que tais criatura mínimas existem.

Tem ainda os casos mais graves, como aqueles que sofrem de uma espécie de ilusão ótica, e acham que estão evoluindo formidavelmente e se tornaram seres superiores, quando na verdade não sairam do lugar, e o mundo inteiro andou. Problemas da física: movimento ou inércia depende do referencial, e a maioria prefere usar como referencial o próprio umbigo.

Às vezes as pessoas acham estranho eu não ter o hábito de ter grandes espelhos em minha casa. Via de regra, o que tem no banheiro me serve muito bem. A questão é que acho espelho um artigo muito dispensável, quando pelo menos 80% das pessoas que conheço são incapazes de se enxergar, independendo do artifício ou objeto que utilizam. Logo, concluo que um espelho dificilmente é útil para um ser humano mediano como eu, ou inferior como a grande maioria.


Conclusão? Eu balanço minha cabeça em sinal de reprovação, e rio. Rio muito.

4 comentários:

  1. eita eita
    acho q não gostei do discurso
    talvez pq eu esteja parada já há um tempo

    =p

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  2. "O mundo está cheio de fulanos. Aqueles, poeira sob nossas unhas. A parte engraçada é que de vez em quando, um fulano-poeira acha que sua vida ensimesmada, enfadonha, e nanométrica é algo espetacular!"


    E o mais engraçado disso tudo é que eles nunca vão saber o pq de vc rir...
    Ahá!

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  3. Julgar é complicadíssimo e, na grande maioria das vezes, injusto, porque a escolha dos parâmetros sempre será discutível.

    Beijo.

    ℓυηα

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  4. sempre q leio um post da Lana lembro a cor do meu cabelo.

    Complexo flor, complexo!!!

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