quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Ana B responde ás 3 perguntas de Ana C


Quando li o título não fiquei nada interessada no conteúdo do texto. Não é a primeira nem a última vez que uma mulher manifesta uma atrocidade nesse sentido. É papo muito costumeiro em novelas, filmes e entre mulheres de classe média alta; conselho dado por muitas avós, mães e tias que possuem alguns valores questionáveis etc, e tal...

Parei no título e pensei: pow, porque essa menina tinha que ter meu nome? E resolvi abstrair, esquecer, pensar “affff”, lamentar pela Ana Cristina César que teve o codinome malfadado, e deixar pra lá... Só que o falatório na internet foi gigante... Aí eu acabei lendo a porcaria toda, mais alguns dos comentários e fiquei realmente abismada.

Ainda que o post tenha sido publicado em um blog acusado de ser um tipo de revista Cláudia virtual, o que me irrita é que esse tipo de declaração tem muito mais alcance do que a “gatinha” do texto pode imaginar, e incentiva um comportamento machista e misógino dos cabras ignorantes que habitam nosso planeta. Basta observar um dos primeiros comentário da própria publicação:

ela não falou nada além do que todas as mulheres pensam, mas não podem falar para não parecerem putas. Mas elas não são putas, porque as putas cobram à vista e você já sabe de antemão quanto vai gastar.”

Tudo bem, o cara já pensava assim, isso não aconteceu por causa do texto... Mas mulheres que agem dessa forma reforçam esse conceito... E esse conceito existe porque muitas mulheres insistem em depender dos homens quando não é necessário depender, por exemplo: comprar lençóis, pagar cinema, etc e tal.

E aí você vai ter sempre um amigo que vai sacar esse texto da manga quando estiver te explicando que as mulheres não são sempre legais e independentes como você, que elas só querem contas bancárias, blá blá blá... E o negócio que eles vão usar como argumento partiu de uma mulher que não nasceu na década de 30, que fez faculdade, que trabalha e que tem tara por uma característica financeira do indivíduo... Daria sono, se não fosse tosco o suficiente para causar insônia. Cheguei a me perguntar: em tempos de recessão essa menina viraria freira? Muito pouco provável... Posso estar sendo precipitada, mas a minha impressão é que sexualizar o lance de depender do homem para prover o próprio bem estar foi uma tentativa de tornar moderninho um dos costumes mais arcaicos do universo.

Nos comentários do texto a galera vai além e justifica, “é uma tara”, julgar isso é ser “conservador”. Cara, não vou julgar a menina, na verdade me compadeci. Pelo que entendi, ela tem uma queda por lençóis com trocentos fios e mercedes, ao mesmo tempo que não possui o mercedes na garagem e os tais lençóis em sua cama, é uma história triste. Não satisfeita com a condição de mendiga do luxo alheio, ela diz se sentir  superior por ser bem resolvida com isso... Mais uma vez ela tenta me matar de preguiça, porque pqp véi, se você é realmente bem resolvida com uma escolha sua, você não precisa tentar convencer o mundo de que isso te faz superior a ele. A xará me chamou pra briga, veja bem o que ela disse:

É uma puta hipocrisia criticar quem escolhe pessoas ricas para se relacionar

Cara, não vou negar que sou humana, e que tenho meus momentos de hipocrisia... Mas não nesse caso. Não me ocupo apontando o dedo e criticando meninas como a Ana C, mas não tenho gente assim no meu círculo social e nunca confiaria em alguém que prega esse discurso... Seja para sexo, casamento, amizade profunda, papo furado... Não tenho muita grana, e a pouca grana que tenho posso perder, e aí? As pessoas vão todas embora? Fecham-se as cortinas? Cortam-se os pulsos? Não é hipocrisia, é sensatez, é saber que as coisas passageiras não são permanentes (veja bem, a acusação é tão idiota que até mesmo a defesa é rídicula: passageiro x permanente, daqui a pouco vou fazer a piadinha do cobrador e do motorista... afffffffffff).


a Ana C elaborou 3 perguntas para provar minha hipocrisia, são perguntas tão difíceis, que eu sou capaz de responder, ilustrar, fazer um vídeo, citar um exemplo, repetir de trás pra frente, soletrar... Tudo isso enquanto assovio o hino nacional comendo bolacha de água e sal, viu? Ainda assim, vou optar pelo método tradicional para respondê-las:

Você namoraria alguém que ganhasse um salário mínimo se tivesse a oportunidade de namorar alguém que nem faz ideia de quanta grana tem?”

Eu nunca faço ideia de quanta grana a pessoa tem. Faço análise de crédito no meu trabalho, não na minha vida pessoal. A renda do cara só será relevante caso ele ganhe dinheiro de maneira ilegal (seja aviãozinho de traficante, seja o próprio traficante, seja colarinho branco...) porque não tenho vontade de viver aquele lance de visita íntima na prisão.

Você prefere que seu marido te busque no trabalho com uma Mercedes ou com um Fusca?”

Faz parte da minha vida gostar de caras que andam em fuscas, começou na adolescência e não consegui parar... Mas também não é uma tara, carros populares, carros de luxo, bicicletas... Por mim o cara é livre para ter o meio de transporte que quiser, mas realmente prefiro voltar do trabalho de carona com algum colega, ou sozinha, no meu carro, que aliás, é popular, porque não sou rica (será culpa dos meus genes?).

Você não trocaria o picadinho da birosc onde você janta pelo Fasano?”

Birosca é legal, eu realmente me sinto mais a vontade em lugares mais simples e com gente que palita os dentes sem medo de ser feliz. Já fui vista, várias vezes, por pessoas do trabalho, da família e da faculdade, em lugares que eles consideram “infrequentáveis”... Quando questionavam: “como você tem coragem de ir naquele lugar?”, eu respondia: “Se você ver uma pessoa em um lugar tosco e julgá-la decadente, pensa com carinho, poderia ser a Ana B”. Aí a xará pode argumentar que o meu problema é nunca ter experimentado um jantar no Fasano.. Véi, se esse jantar vai mudar meus princípios, não é jantar, é macumba.

Tudo respondido, agora posso dormir em paz? Não, parece que tenho mais algumas coisas a dizer...

Talvez eu não tenha genes tão bons quanto os da minha xará, talvez eu tenha mais bom senso...Talvez isso nem seja relevante e esse meu post tenha sido muito desnecessário... Mas realmente, eu precisava passar por esse momento verborrágico, sei lá...

A vida já é difícil por si só, sem que discursos toscos como o dessa guria sejam publicados em blogs populares. A mulher foi tratada por milênios como mercadoria, e os caras olhavam os dentes, conferiam as características da mocinha, e decidiam se era aquela ou se seria outra... Pessoas lutam diariamente por direitos iguais, por respeito, mas algumas meninas jogam areia nessa luta, porque elas preferem o mercedes do cara, é mais fácil do que batalhar o próprio mercedes. Não acho que seja puta, mas também não acho que seja inteligente, acima de tudo, acho que não seria da minha conta, caso não tivesse se tornado publico e não desse argumentos à bandeira da misoginia.

Fora isso, admiro a determinação de quem prefere passar a vida na academia pra garantir o corpão e o cara do mercedes ao invés de passar a vida batalhando a própria grana e os próprios bens. Não deixa de ser uma vida difícil, que exige muito e talz... Mas, na minha opinião, oferece muito pouco em troca. 

Peço desculpas pelo texto longo, pela linguagem chula, por ter escrito tanta coisa tão de qualquer jeito... Espero que vocês continuem lendo o blog, mesmo eu sendo pobre e postando improvisado. ;)



6 comentários:

  1. Mesmo concordando com quase tudo q vc falou aí, tb nunca entendi o fato da pessoa conseguir se sentir ryca e abalando com o dinheiro alheio, mesmo entendendo o tanto que muitas vezes é chato trabalhar, hahaha... Só que não concordo com vc na parte de q vc admira a determinação desse tipo de pessoa, eu não admiro porra nenhuma!!!


    Agora fiquei matutando aqui...

    Será que essa preguiça de malhar que eu sinto vem do meu desinteresse por mercedes?

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  2. Como diria o velho bordão: "Uns gostam do olho; otros da remela."
    Há caras que curtem o tipo da Ana C e há moçoilas que querem ser como ela. Por mim, tanto faz; cada um no seu quadrado, como diria o poeta.
    O que me incomodou profundamente foi ela dar a entender que toda mulher é assim e que nós todas somos hipócritas. Isso é pura imbecilidade. Gostar de dinheiro é uma coisa; ser parasita do bolso de alguém é outra.
    Homens sem senso crítico poderão e irão utilizar esse texto como argumento, mas esse tipo de homem como o tipo de mulher que a Ana C devem ser tratados com a mesma cortesia que dispensam a quem difere deles: desprezo.
    Infelizmente entretanto ainda conseguem influenciar na situação da objetificação da mulher em várias esferas do nosso cotidiano. Melhor tentar evitar que pelo menos não consigam aumentar nossas insônias.

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  3. Começo a desconfiar de alguém que diz "Ah, não sei se vale investir em Fulano (a)"... quando os termos pra definir um relacionamento vem geralmente do jargão econômico, é sinal de que a pessoa tá querendo uma pensão, não um amor.

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  4. pior pra mim são os caras, que só possuem como "arma sexual" o dinheiro. Tem que ser muito desgraçado na vida pra ter a conta bancária(isso quando a conta é deles, porque na maioria dos casos é do pai e o cara tem nem idéia de como surge a grana) como único recurso para atrair as pessoas (leia-se gatas, amigos, etc.)

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  5. Ruiva, se sua preguiça por malhar vem do seu desinteresse por mercedes, a minha deve vir do meu desinteresse pelo Fasano hahaha
    Concordo com a Ana B. em genero, numero e grau, enquanto as pessoas nao se valorizarem e nao valorizarem os outros pelo que sao e nao pelo que tem o mundo vai continuar nessa queda livre desvairada.
    Nunca prestei atencao pra carro de cara nenhum (alias nem sei direto sobre isso e nem faço questao de saber), e me sinto muito melhor em lugares "infrequentaveis" do que nos frescos e cheios de pose.
    Por um mundo com menos pessoas com pensamento pequeno...

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  6. Essa observação do Àlisson foi muito pertinente.

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