sexta-feira, 22 de março de 2013

Preguiça de me aborrecer

Ao longo da vida, o que mais tenho sentido chama-se preguiça. Não é bem preguiça de viver, de fazer as coisas, de ser útil... É preguiça de tudo que foi inventado pela humanidade para desperdiçar nosso tempo. Não que eu acredite que o nosso tempo seja precioso... Mas acho que podemos poupar esforço com certos costumes desnecessários. 

Primeiro, seria bacana que a humanidade se conformasse e assumisse que ninguém é porra nenhuma. Que não existe uma resposta para a pergunta “Quem é você?”, afinal a maioria das pessoas responde essa pergunta com palavras que serviriam de resposta para “O que você faz?”, ou “O que você fez?” ou “A que grupo social você pertence?". Quando você é criança, se formos otimistas, você é o filho da fulana e do fulano. Quando você é adolescente você é amigo do ciclano ou da ciclana, e quando você é jovem você é estudante de alguma porcaria, e quando você cresce você se torna um profissional daquela porcaria, para enfim, posteriormente, se tornar um aposentado daquela porcaria. E ao longo disso tudo, nenhuma resposta define “Quem é você”, pelo menos nenhuma resposta que vá me convencer.

 Durante essa longa jornada é preciso parecer... Ai como isso me deixa entediada! Você precisa parecer saudável, pra não ser recusado nas entrevistas de emprego. Você precisa parecer bom aluno, pra tirar nota boa nas provas daquele professor que dá as notas de acordo com a feição. Você precisa parecer bem sucedido, porque sei lá, as pessoas todas fazem isso, mas você na verdade acha que não é possível ser bem sucedido e ser humano simultaneamente... Além das contradições, como parecer desinteressado em termos de romance, mas interessado em termos de vida profissional. Fora isso, parecer inteligente, assertivo, competente, gostar de animais, ser politizado... O que mais? Não sei, não me importo.

 E as pessoas ficam tanto tempo tentando fazer coisas para melhorar a resposta pro “Quem você é?” e parecendo coisas que não são, apenas pra impressionar sabe-se lá com qual intenção, que eu apenas desejo parecer insana e cansada o suficiente pra ser dopada e dormir pelo resto da vida. Contudo, me resta lembrar da música do pullovers e ter preguiça de me aborrecer.

Inspiração: “Não bastava não dar sinais de sofrimento: era preciso não sofrer”

2 comentários:

  1. Eu não sei se fingir é tão ruim assim. Acho que serve também pra nos proteger.
    Você pode criar um personagem que vai de terno e cabelo escovado pro trabalho todo dia e acredita em sorrisos amarelos e que o cliente sempre tem razão.
    O foda é quando você se torna o personagem.

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    1. pode ser bom... mas acho que nunca dou conta de sustentar o personagem por tempo suficiente para torná-lo convincente

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