segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Por que gosto tanto de Jogos Vorazes?



É um blockbuster, com certeza. Ainda assim, não é convencional, e é grandioso.

Além da mensagem poderosa e sedutora da revolução, do levante de um povo contra um "governo" opressor, como tantos outros, inclusive meu querido V de Vingança, Jogos Vorazes traz algo raro e que me é muito caro, inestimável: um filme sobre mulheres que não se submetem.

Katniss é uma protagonista como raras vezes se vê no cinema: não se submete ao homens e garotos em seu caminho, e não vê sua redenção no romance, tão facilmente a seu alcance, seja na fragilidade de Peeta, ou no senso de justiça e proteção de Gale. Johanna Mason é igualmente forte, determinada e dona de si, assim como muitas outras mulheres retratadas.

A resistência é liderada por Alma Coin, uma líder democraticamente escolhida e respeitada, o distrito 8 segue sob a liderança de uma comandante, Primrose Everdeen cresce em força e determinação, enquanto o Presidente Snow é assessorado por Egeria, uma mulher igualmente forte, mas alinhada com a opressão.

Jogos Vorazes trata de uma forma ímpar e sábia um tema urgente, ignorado ou tratado com jocosidade por nossa sociedade, de forma deliberada: a equidade de gênero.

Katniss, embora desejável, nunca foi tratada, em seu distrito ou mesmo na Capital, como mero pedaço de carne por ser mulher. Ela é tratada como objeto, descartável e pedaço de carne por ser humana, assim como Finnick, Peeta e todos os "Tributos", femininos e masculinos.

Embora apareça frequentemente em belíssimos e exóticos vestidos, mesmo privada de sua dignidade em diversas formas, em momento algum Katniss é objetificada exclusivamente para o deleite sexual masculino, mas sempre tratada como entretenimento de uma sociedade que embora sofra de muitas doenças sociais, desde o interesse literalmente mórbido pelas vidas alheias até a falta de compaixão com o sofrimento alheio, superou a patologia que ceifa diariamente muitas vidas femininas no nosso mundo pré-apocaliptico real.

Para nós, eu apenas espero que não precisemos ir tão longe e tão baixo em nossa humanidade antes de ver superado o machismo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário