Dez anos passam rápido demais, ou talvez a fila da saudade
seja mais rápida do que as outras todas. Sabe, tenho entrado em muitas filas
demoradas desde então, mas pouquíssimas são tão acolhedoras quanto a fila das
memórias que tem a gente, a gente e aquela casinha lá longe no meio do nada, a
gente e aquele tanto de cachorrinho que você me deixava cuidar, a gente e
aquele inesquecível trágico dia em que você me deixou esperando demais no
colégio e eu fugi de lá e nos perdemos um dia inteiro, a gente viajando escorregando naquelas estradas de
puro barro, a gente enfrentando as minhas gripes mensais e você imitando minha
voz de nariz entupido, a gente andando de bicicleta no calçadão e eu
desesperada pra você não sentar na minha bike de rodinhas e quebrar, a gente
comendo quibe recheado de ovo escondido da dona mãe, a gente brigando pelo
canal da TV, a gente lutando no sofá da sala e eu sempre saindo machucada, a gente
bebendo nossa coca-cola geladíssima, a gente assistindo filme e eu acabar
dormindo em cima da sua barriga, a gente implicando o povo aqui de casa, a
gente ensinando a tabuada pro menininho preguiçoso, a gente brigando pelo
horário que eu não queria voltar para casa, a gente e a nossas gordices, a gente
como éramos bons juntos... E o que é legal nisso tudo? Certamente é ter essa nossa fila particular, quando todas as outras filas estão impossíveis, Saudades. ♥
texto mais lindo, mics.
ResponderExcluira saudade dói, mas sabe ser bonita tb. taí a prova.