sábado, 9 de julho de 2011

Des(crença)

O assunto sobre o qual escrevo não é comum a todas as donas desse blog, mas como esse espaço não serve para falar de esmalte, de sapato e mal de homem apenas, penso que seja propício abordá-lo. Falarei sobre ateísmo. (Suponho que o que direi tem potencial de ofender muitas pessoas, então procurarei ter cautela, pois este não é meu intuito.)

O ateísmo está se tornando popular na rede. Sites e mais sites se alastram. No twitter, os ateus saem do armário gradativamente, mas infelizmente o preconceito impera. De acordo com estatísticas, somos as pessoas mais odiadas do país, superando prostitutas e criminosos.

Os líderes religiosos juntamente com o texto bíblico não facilitam a situação. De acordo com eles, somos maliciosos, endemoninhados, maus, delinqüentes, perniciosos, imorais. Exceto endemoninhado – já que não acredito no demônio –, é certo que existem ateus que carregam todas essas características, como também religiosos, mas não é o que se aplica a todo o grupo.

A Moral ateísta, vale explanar, provém de um conjunto de valores que são racionalmente analisados, ponderados e selecionados em prol do bem comum. Não é porque não acreditamos na danação eterna que sairemos por aí cometendo atrocidades e crimes de toda sorte. Nós temos famílias que nos amam e a quem amamos e – pasmem! – nos importamos com elas. Nós temos noção do que é sofrimento humano e não queremos infligí-lo a ninguém, nem a desconhecidos, por mais que a impunidade seja garantida (nesse País).

Inclusive acredito que os ateus têm muito mais responsabilidade que os religiosos, uma vez que nós não cremos numa entidade superior e onipotente que nos absolverá de qualquer punição mediante prévio arrependimento. Para nós, não há perdão algum e, portanto, lidamos diretamente com as conseqüências de nossas atitudes.

Por outro lado, nós acreditamos na liberdade de crença e de descrença, de orientação sexual, na igualdade de gênero; defendemos a prática – regulamentada – do aborto, o combate à homofobia e à violência contra a mulher (machismo), e a pesquisa com células-tronco. São temas que diante de uma “balança moral” são favoráveis para o desenvolvimento humano, ao passo que promovem a inclusão social e o aprimoramento da saúde pública. Não há nada mais moral que essas questões, entretanto encontram entraves por parte de frentes e líderes religiosos dentro do Governo (aliteração não intencional). Assim sendo, o Brasil continua carecendo de suporte legal para situações recorrentes no dia-a-dia do brasileiro em razão de uma moral religiosa extremamente influente dentro de um Estado supostamente laico.

Um dos argumentos mais utilizados por alguns religiosos contra ateus é que nós zombamos de sua fé. Nesse sentido, faço uma pergunta: quem que agora me lê nunca pelo menos torceu o nariz para o culto de ratos e vacas na Índia ou para as 72 (eu acho) virgens que esperam os homens-bomba mulçumanos ou para sacrifícios de animais em cerimônias de religiões afro-brasileiras? Como diz num dos cartazes constantes da campanha promovida pela ATEA – Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos: nós todos somos ateus em relação ao deus do outro.

Apesar disso, eu nunca tentei convencer ninguém da minha descrença e minhas amigas e companheiras de blog são a prova viva disso. Isso é respeito, o qual dedico a cada crença e a cada religioso e, dessa forma, não presumo a qualidade de seu caráter pela religião seguida.

Sendo assim, importante ressaltar que o que os ateus pretendem é apenas a liberdade de serem o que são, sem sofrerem preconceito e sem ameaças do tipo: “Você vai queimar no mármore do inferno”, “Num avião caindo, não existe nenhum ateu”, “Quando sua mãe morrer, você vai acreditar em deus” ou “Quando você estiver morrendo, você vai rezar”. Se você acredita em deus por medo, guarde essa vergonha e nos poupe do embaraço.

8 comentários:

  1. Bons argumentos, gostei, e eu sou religiosa.
    Abraço.

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  2. Acho que a intolerância religiosa é comum, sendo religioso ou não, como na história do "ateu com relação ao outro Deus"

    O ateísmo é, mais bem fundamentado no em termos filosóficos, se comparado à religião e a outras crenças. Daí nem tem como contestar o que tá escrito aí. A não ser que sejam argumentos religiosos :P

    Só não concordo às vezes com a postura de "propagação da descrença". O que chega até mim, dos meu amigos ateus, frequentemente é agressivo além da conta com os religiosos ou com os seus símbolos. A partir daí, vai perdendo um pouco o sentido, virando uma "caça às bruxas às avessas", agredindo a liberdade da pessoa que crer em imagens de gesso, vaca ou Maradona é sagrado

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  3. Muito bom Badona!
    Não sabia do seu ateísmo!
    E o texto ficou ótimo! E discordo um pouco do comentário do Zé porque apesar de ver muitos ateus um pouco ofensivos, não levo eles muito a sério, porque normalmente eles tem argumentos tão fracos quanto os religiosos! Os grandes ateus que eu conheci já foram religiosos, e seus argumentos vem de uma busca profunda de sentido! Ou mesmo que não religiosos no passado, são leitores de muita coisa considerada sagrada e talz... O próprio Nietzsche tinha estudo ávido em teologia pra dizer: "Deus está morto!" Ele não falou isso da boca pra fora! Mas concordo com você (Zé) no sentido de que, se a bandeira do ateísmo não for a própria tolerância religiosa em si, ele já é intolerante (caça às bruxas)!

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  4. "não presumo a qualidade de seu caráter pela religião seguida"

    mas tem hr que eu presumo, me condenem! kkkkkkkk

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  5. então. .. geralmente os ateus q enchem são aqueles que nem são ateus de verdade, que me lembram mto a classificassão de Bertrand Russel: "Deus não existe mas eu o odeio", e que estendem esse "ódio" aos religiosos...

    Mas não conheço mtos ateus...

    Sei que eles podem ser inofensivos como a badona, ou não inofensivos se forem pessoas intolerantes, o que acontece com todos os crentes e descrentes por aí. O maior mal é a intolerância, e mts religiões caem na besteira de defender o mal, pregando a intolerância. =(

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  6. Não sabia que somos assim tão odiados. rs
    Discussões sobre religião são sempre interessantes. Se houver respeito, claro.
    Não se pode dizer que ateus vivem tentando converter religiosos em ateus ou o contrário. Esse tipo de coisa existe em ambos os lados igualmente. Assim como sempre vai existir os ateus que se acham superiores e os religiosos que se acham superiores.

    "nós todos somos ateus em relação ao deus do outro"

    Aproveitarei as frases que você postou - “Num avião caindo, não existe nenhum ateu”, “Quando sua mãe morrer, você vai acreditar em deus” ou “Quando você estiver morrendo, você vai rezar” - para falar. Odeio quando me dizem isso! Eu sempre respeitei religiosos, até já acreditei em Deus e tudo o mais (não do jeito imposto pela igreja, apenas como uma força superior), mas não venha me dizer que as coisas só acontecem na minha vida porque Deus quis que acontecesse. Se aconteceu foi porque você quis ou foi consequência de algo que você fez, não Deus!
    Mas enfim, não me estenderei demais. Ótimo post.

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  7. Adoro estar falando em primeira pessoa e mudar de repente. kk

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  8. Não concordo que a gente compartilhe toda essa racionalidade: já vi muitos ateus homofóbicos e intolerantes por aí. Mas foi uma grande sacada lembrar os religiosos do tanto que eles torcem o nariz pra outros cultos, até porque eu torço o nariz pra caralho pros religiosos de nariz torcido embora pague pra não entrar numa briga e nem queira argumentar com nenhum crédulo que deus não exista.

    Gostei do texto, Gabi, você chuta bundas!

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